Por Sofia Lerche Vieira (*)
Aproximando-se o Dia do Professor é
oportuno refletir sobre o complexo desafio do exercício desta profissão. Vamos
lá... Em todo o mundo os docentes representam um elevado contingente do serviço
e do orçamento público. Embora sejam muitos, em poucos países seus salários são
semelhantes ao de profissionais com qualificação similar. Por isso mesmo, hoje
o magistério é profissão de pouca atratividade. Baixos salários, sobrecarga de
trabalho e falta de reconhecimento social são elementos de uma desvalorização
que provoca uma crise no próprio recrutamento de docentes.
Há uma grave escassez de professores. A
Unesco estima que até o ano de 2030 serão necessários 44 milhões de novos
docentes para repor os profissionais da educação básica que abandonaram o
magistério ou se aposentaram.
Sendo este o panorama mundial, o que dizer
do Brasil? A situação é semelhante a outros contextos e tem especificidades.
Somam-se aos fatores já referidos o agravamento das condições de trabalho,
sobretudo em territórios de maior vulnerabilidade social e econômica, ameaçados
pelo crime organizado. O antes protegido espaço da escola hoje está em risco...
Outro agravante da crise do magistério é o aumento
de contratações provisórias, criando muros invisíveis entre duas categorias de
professores - os efetivos e os temporários, cujos direitos raramente são os
mesmos. Estudos mostram que o quantitativo de temporários tem aumentado
significativamente nos últimos anos e hoje, já representa a maioria do
corpo docente da educação básica. Muitos estados e municípios estão encontrando
nessa estratégia uma forma de driblar compromissos previdenciários acarretados
pela "Lei do Piso" (Lei nº 11.738/2008).
A despeito de todas as dificuldades,
contribuir para formar cidadãos e cidadãs permanece sendo o sonho de homens e
mulheres que abraçam o magistério. Para que mais jovens digam "sim"
são necessárias e urgentes políticas públicas que reconheçam e valorizem a
profissão. A imagem positiva da sociedade, por sua vez, é a pedra de toque para
que pessoas competentes e comprometidas queiram ser professores.
(*) Professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/10/25. Opinião. p.18.

