Por Luciano Cesário (*)
Nada é tão forte na religiosidade do
Cariri quanto a influência de Padre Cícero agora comprovada em dados
demográficos. O Censo de Religiões do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), feito em 2022, mostra que o Crato, terra natal do Padim,
nascido em 1844, é a cidade brasileira mais católica do Brasil no grupo dos
municípios com população acima de 100 mil habitantes. A segunda é Juazeiro do
Norte, fundada pelo sacerdote e transformada pelos seus devotos num dos maiores
centros de turismo religioso do Brasil.
Na cidade onde Padre Cícero nasceu, com
112,9 mil habitantes, cerca de 91,8 mil pessoas são seguidoras do catolicismo,
o equivalente a 81,29% da população. E na metrópole por ele criada, quase 200
mil são católicos, correspondente a 81,14% do total de habitantes (245,6 mil).
Em Crato e Juazeiro, a adesão à religião pregada pelo Padim é maior do que a
proporção no Ceará (70,4%), no Nordeste (63,9%) e no Brasil (56,7%).
Ainda que tenha sido suspenso de suas
funções sacerdotais pelo Vaticano antes de morrer, Padre Cícero
exerceu papel de âncora da religião católica no Nordeste. A sua liderança
espiritual, especialmente entre os mais pobres e marginalizados, o fez ser
venerado como santo popular por uma legião de fiéis católicos. Essa devoção
leva anualmente cerca de 2 milhões de devotos a Juazeiro do Norte para romarias
e visitas turísticas aos templos católicos entrelaçados com a trajetória do
Padim.
A fé popular que congrega multidões em
adoração ao Padre Cícero é uma semente de multiplicação do catolicismo em
constante germinação que atravessa gerações. A adoração ao sacerdote não tem
idade e nem distância. Os romeiros vêm de toda parte e exaltam o longo caminho
até o Cariri como uma justa peregrinação por quem eles acreditam ser o autor de
milagres alcançados.
E a tendência é que a influência
religiosa do fundador de Juazeiro cresça ainda mais diante da possibilidade de
que o Vaticano o reconheça como beato. O processo marca uma nova fase na
relação de Padre Cícero com a Igreja Católica, mais de um século após a
suspensão sacerdotal aplicada a ele em 1894.
Coube ao Papa Francisco, em 2015, a
assinatura da carta de reconciliação do Vaticano com o santo popular do Cariri.
O pontífice, cujo papado ficou marcado pelo acolhimento aos vulneráveis e
grupos discriminados, abriu as portas da Igreja para o sacerdote que vivo ou
morto nunca deixou de ser reconhecido por uma legião de devotos como líder
religioso, padre e até santo. O legado, não por coincidência, explica a força
da religião católica onde ele nasceu (Crato) e morreu (Juazeiro do Norte). Em
casa, Padre Cícero é o grande indutor do catolicismo.
(*) Coordenador de
jornalismo da Rádio O Povo CBN Cariri.
Fonte: O Povo, de 20/06/2025. Opinião. p.19.
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