Há um ano por razões particulares, passamos a ter maior envolvimento com a sigla ITA, três letras de grande significado para os portadores do seu cognativo iteano, mas também de suma importância para a ciência e a tecnologia brasileiras.
Isto aflorou fatos que remontam mais de trinta anos, precisamente em 1971, quando nos preparávamos para o vestibular para Medicina da UFC. Nessa época, alguns colegas secundaristas, dentre os mais brilhantes interessados nas áreas exatas, acalentavam o sonho de cursar o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), e para isso recorriam a estudos complementares, cumprindo atividade paralela adicional, pois o conteúdo programático do exame de acesso ao Ita incluía tópicos lecionados apenas na graduação.
Desde tal período, os “cabeças chatas” alencarinos assumiam parcela ponderável das vagas e serviam de êmulo para, ano a ano, ondas de co-estaduanos assegurarem a demarcação territorial nesse enclave científico do Vale do Paraíba.
No dia 27/12/2002, o ITA divulgou na “internet” a lista dos aprovados (156) em seu vestibular de 2003 e convocados a se apresentar para preenchimento de suas vagas. Informações interessantes emergem claramente dos resultados de um concurso, para o qual se inscreveram 9.081 candidatos (crescimento de 9% em relação ao ano precedente) para as cerca de 120 vagas, usualmente ofertadas, o que traduzia a concorrência superior a 75 por vaga, mas como foram convocados 156 a taxa geral de aprovação redundou em 1,72%. Não se trata tão somente de alta concorrência, porém de uma competição acirrada devido à notável qualificação dos que tencionam estudar no ITA.
Como reduto tradicionalmente masculino, visto que o ingresso de mulheres é uma condição recente, estas embora representassem 20,63% dos inscritos amealharam 9 (5,77%) das vagas, obtendo taxa de aprovação de 0,48% contra 2,04% de aproveitamento entre os homens; saliente-se que as cifras acima não permitem juízo de valor quanto a um possível diferencial por gênero.
Os 24 locais de inscrição e de aplicação das provas estavam distribuídos em 17 unidades federativas, sendo que em quatro: Mato Grosso, Santa Catarina, Bahia e Amazonas não houve candidato aprovado, retratando a abrangência nacional do certame. Os estados com taxa de aprovação superior à média do país foram: Ceará (9,17%), Pará (4,37%), Rio de Janeiro (3,42%), Pernambuco (2,88%), Rio Grande do Norte (2,38%), Minas Gerais (2,03%) e Espírito Santo (1,74%).
O Ceará, com apenas 338 inscritos (3,72%), teve o mais alto rendimento de todos os estados, arrebatando 31 vagas (19,87%) ao passo que São Paulo, com taxa de sucesso de 1,43%, abocanhou 51 vagas (32,69%), mas levando 44,87% dos concorrentes; Rio de Janeiro e Minas Gerais participaram com 10,41% e 7,05% dos registrados e foram contemplados com 27 (17,31%) e 13 (8,33%) vagas.
Dos 51 aprovados por São Paulo, 32 (62,74%) foram registrados em São José dos Campos, município sede do ITA, e, em sua maioria, devem advir de um afamado curso preparatório específico para o ITA, que abriga inclusive alunos de outros estados, dada à qualidade de seu ensino e de suas instalações físicas. Do Ceará, a mídia local anuncia o êxito de uma instituição genuinamente cearense, que inscrevera 84 alunos e obteve taxa de aproveitamento de 26,19%, respondendo por 22 lugares, ou seja, 70,97% do conjunto das vagas fincadas por gente aqui inscrita.
Os números acima falam por si, traduzindo de forma incontestável o elevado padrão e a competitividade de parte de nossos egressos do ensino médio, a exemplo da farta “intromissão” de cearenses nas vagas em Medicina dos estados vizinhos, que, por sua vez, se sentem surrupiados em seus interesses de dispor as posições para os “filhos” da própria terra.
Por fim, rememore-se que o ITA foi concebido e criado, há mais de 50 anos, em parte, pelo ilustre cearense – o marechal-do-ar Casimiro Montenegro Filho, tendo em mente os moldes do MIT norte-americano, e ainda que, certamente, se vivo fosse, teria orgulho pelo sucesso de sua empreitada, edificante para a tecnologia de um país que desponta com vigor no cenário das nações industrializadas, e estaria pleno de brios pelo desempenho de seus conterrâneos.
* Publicado In: Jornal O Povo. Fortaleza, 04 de janeiro de 2003. Caderno A. p.7.
"Ainda Estou Aqui"
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