É tarefa das mais honrosas opinar sobre a recente obra do Dr. Marcelo Gurgel que, sob o pseudônimo de Luiz Gonzaga Carlos da Silva, uma corruptela do nome do seu pai, nos presenteia com o fabuloso romance epistolar intitulado: MAQUIS: Redenção na França Ocupada.
Misturando ficção com fatos reais, acrescentados de uma boa dose de sonho e fantasia e mais uma pitada de poesia, o autor nos conta a vida de Luiz Gonzaga até seus 30 anos de idade. Tendo como pano de fundo a II Guerra Mundial, Gurgel nos descreve o engajamento de Luiz Gonzaga na Resistência Francesa, durante seus estudos no Centro de Formação Marista de Saint-Étienne, na França, após sua infância em Redenção, Ceará, lavrando a terra na dura labuta do dia a dia, e seu ingresso no Colégio Cearense Sagrado Coração, em Fortaleza.
Ao tratar os fatos que permearam a juventude de Luiz Gonzaga, o autor nos apresenta uma história instigante, repleta de bravura do jovem marista, praticante de ideais e princípios cristãos, que vivenciou e testemunhou os horrores e atrocidades do nazismo na França ocupada.
Neste romance, Marcelo Gurgel ingressou no mundo árido e fatigante das pesquisas históricas, em razão de uma notável capacidade de trabalho e de uma genuína curiosidade historiográfica. Essas qualidades o levaram a pesquisar e a estudar em profundidade a Resistência Francesa, a Segunda Guerra Mundial e os partisans, conhecidos também por “maquis”, na luta contra o nazismo.
Verdadeira viagem às regiões, departamentos, villes, villages, santuários, igrejas e monumentos da França, absorvendo sua cultura e compreendendo como se deu a débâcle française e como se forjou a resistência, na alma de seu povo, contra o Regime de Vichy, do marechal Pétain, este livro nos prende da primeira à última página. É também uma viagem a Espanha, Bélgica, País Basco com sua Guernica destruída, tão bem retratada em seus horrores por Picasso. Essas e muitas outras questões são apresentadas com grande talento e sempre no contexto de uma rigorosa análise historiográfica.
Como nos diz o próprio autor, “este livro é a história de um maquis, cuja bravura não se forjou nos campos da França, mas veio dos tempos em que ele ganhava a mata seca do Acarape, em Redenção, para catar espinhos nos mandacarus resistentes, que se amontoam na beira da estrada. Era com eles que sua mãe marcava os furos no papelão desenhado, que ela prendia com cuidado, na almofada rota, passando, a partir daí, a trocar os bilros e a trançar as linhas, até que o seu esforço diário se transformasse em um quarto de metro de renda ou de bico de grande perfeição e beleza”.
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
Médica e Historiadora
* Publicado in: O Povo, Fato Médico, de 19 de julho de 2009. p.8.
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