quinta-feira, 20 de junho de 2013

SUCESSÃO EM 2014!



Felipe Bastos Gurgel Silva (*)
Quem me conhece sabe que é muito difícil para uma pessoa como eu dizer o que vou dizer agora. Mas, pelo que estou vendo (não dos protestos, mas da situação econômica do Brasil), a pior coisa que poderia acontecer para o País, no longo prazo, seria a Dilma não se reeleger. Sempre fui um crítico do modelo petista de state capitalism que infla o estado e “seleciona os vencedores” no pior estilo animal farm. Por que então falo isso? Porque qualquer pessoa com o mínimo conhecimento de macroeconomia verá que é uma questão de poucos anos para uma grande crise econômica chegar ao Brasil – e, dessa vez, os motivos principais são internos, não externos. Ou melhor, não o que foi feito, mas o que deixou de ser feito na gestão Lula (questões semânticas à parte).
Infelizmente na grande maioria das sociedades democráticas (senão todas, embora em níveis diferentes), os eleitores sempre associam governo atual com momento atual. Apenas lembrando, nos idos de 2003 o Lula em si não tinha índices de aprovação superiores a 38%. Como tudo isso mudou? Bom, em 2005, nosso amigo Jim O'Neill cria a sigla BRIC e, em conjunto com outros fatores, o Brasil passa a soar aos olhos do investidor como uma democracia estável, um País com forte potencial consumidor e com um sistema político bipartidário (PT / PSDB) que garantia que, independente de quem ganhasse, não haveria um idiota pregando o calote fiscal ou expropriando empresas privadas (vide Venezuela ou mesmo Dona Cristina). Estabilidade com alternância de poder - associada a 180 milhões de habitantes que poderiam começar a consumir. Em paralelo, começa-se um super-ciclo de alta nos preços das commodities (puxado por Índia e, principalmente, China). Cenários externo e interno cuidadosamente desenhados para o País de fato sair da condição de subdesenvolvimento.
Engana-se quem julga que a popularidade recorde do Lula, entre 2005 e 2010, foi fruto apenas dos programas sociais voltados para as classes mais pobres. O Bolsa Família certamente garante a popularidade do governo entre os seus beneficiários, mas 85% de aprovação certamente vêm de algo a mais. Ela vem do funcionário público que viu seu salário duplicar em cinco anos. Vem do cidadão de classe média alta que aprendia a “brincar” na bolsa de valores e via suas ações renderem 40% ao ano. Vem do universitário recém-formado, que passou a ter três propostas de emprego (ao invés de batalhar por uma). Vem da classe média que conseguia viajar para Miami com dólar a 1,55 reais. Vem da própria elite que conseguia captações recordes de recursos quando vaziam seus IPOs. Do Oiapoque ao Chuí, do sertanejo ao Eike, havia um consenso de que “o Brasil hoje é um País melhor”.
Esse conjunto de obra é a receita infalível para a alta popularidade de qualquer governante. Isso ofusca qualquer escândalo do tipo Mensalão. Não é errado julgar que o País melhorou, O erro crasso é atribuir toda essa melhora a uma única pessoa. De fato, as principais reformas estruturais que permitiram que o País se tornasse o que se tornou foram feitas no governo FHC - e pasmem seus próprios partidários, no seu segundo mandato (não no primeiro). O País poderia sim (e deveria) aproveitar esse momento único, no qual os cenários externo e interno totalmente favoreceriam seu desenvolvimento sustentável. Infelizmente, eleitores não julgam seus representantes pelo que os mesmos de fato fizeram, muito menos pelo que deixaram de fazer. Eles olham, ou melhor, sentem o conjunto de eventos do parágrafo anterior. Parafraseando Obama, a famosa pergunta de Are you better off than 4 years ago?
Obviamente que a resposta para essa pergunta aplicada ao povo brasileiro em 2006 era um sim volumoso. E era para assim ser, tendo em vista o momento que o País vivia. O problema é que as pessoas não julgam ações - tampouco enxergam bombas relógios. Pessoas simplesmente analisam, sentem estados de bem-estar social. Abaixo uma pequena lista de o que o PT (Lula) deveria ter feito para o Brasil ter, de fato, rumado no caminho da prosperidade.
Do do list (not accomplished): o governo deveria ter aproveitado o momento do super-ciclo de alta das commodities e o fluxo de FDI que o País recebeu para implementar as reformas estruturais de que o Brasil tanto precisava, tais como reforma política e reforma tributária. Aproveitado a crescente renda (e receita com tributos) para aumentar a produtividade (e consequentemente nossa competitividade) através de investimento em infraestrutura e educação básica. Implementado um modelo de gestão no setor público que tente, ao menos, ser minimamente meritorático, o que garantiria que não pagássemos os “impostos escandinavos para serviços africanos”. Reduzido o tamanho da máquina pública. Modernizado a CLT (o que novamente aumentaria a competitividade da indústria nacional). Transformado nossas universidades (inclusive via atração de alunos e pesquisadores internacionais) em celeiros de conhecimento (novamente, isso afeta a produtividade do País). Modernizado nosso código penal (e a efetividade do mesmo). Em resumo, o PT deveria ter feito o que deveria ser feito para o Brasil se tornar uma economia diversa e de conhecimento.
Obviamente, nada disso garante a reeleição (ou eleição de seu sucessor do mesmo partido). Não é preciso dizer que o que foi feito foi justamente o oposto. Aumento indiscriminado dos gastos públicos. Hiper-exposição em commodities (das dez maiores empresas brasileiras, nove são ligadas diretamente a matérias primas). País com índices crescentes (e epidêmicos) de violência urbana. Epidemia de crack que até hoje o governo federal ignora. Dentre outros fatos (não teorias) que não preciso listar.
Hoje, o modelo brasileiro - se é que podemos chamar de modelo - já mostra claramente que não consegue mais se sustentar. E os sinais são múltiplos. Boom de crédito insustentável (obviamente, os bancos privados já perceberam isso e começaram a dar marcha ré, mas os bancos públicos, como existem para fazer política pró-PT, vão continuar a receita destrutiva). Gargalos estruturais que fazem o País só despencar nos rankings internacionais de produtividade. Inflação fora de controle e crescimento pífio (estagflação), apesar das previsões de Guido, the forecaster. Ibovespa batendo seus 49 mil pontos. Dólar disparando, o que apesar de melhorar a competitividade da indústria, pesa na inflação e possivelmente na dívida de empresas denominadas em dólar. No cenário externo, o fim do super-ciclo de alta e a mudança no perfil do PIB da China pode (e deve) fazer com que a demanda por commodities caia consideravelmente.
A bomba relógio está armada. E foi armada por aquele que hoje dá palestras por 200 mil reais para plateias de líderes e (de)formadores de opinião ouvi-lo falar mal das elites - as mesmas que pagam seus 200 mil reais. Armada pela não ação daquele que com seu maniqueísmo de ricos contra pobres matou o pouco espírito empreendedor que o brasileiro tinha, transformando nossos possíveis futuros Zuckerbergs em concurseiros. Quando a bomba vai estourar, não sabemos ao certo.
O problema é: e SE a oposição ganhar em 2014 e ela estourar nas mãos da oposição, digamos, em 2015? Quem levará a culpa? Dilma? Lula? PT? Então, pergunto: se a bomba for de fato estourar entre 2015 e 2018, não será melhor ter como governante alguém mais apto a desarmá-la, pelo menos, para o desastre ser menor? A resposta seria sim, SE pelo menos dois entre dez brasileiros (eleitores) conseguissem entender o texto acima. Novamente, pagamos agora o maior preço pela falta de investimentos em educação. Acho que o cenário mais provável seria o seguinte: A crise vem na gestão da oposição e o Lula (ele mesmo) aparece para expor a “ineficiência” da gestão atual e comparar de forma descarada os números brutos de seu mandato com os atuais. Volta nos braços do povo - e o pior, como salvador da pátria.
Parafraseando Steve Jobs: It was an awful medicine, but I guess the patient needed. O remédio Dilma 2014 é o do que precisamos. Poderá ser ruim no começo, mas sairemos mais fortes, como sociedade. Exporemos a má gestão do PT aos olhos das pessoas, passaremos a liability do governo Lula ao seu partido, desmascaremos o mito de Santo Inácio Lula da Silva, deixaremos de ver o nome “empresário” como um ente maléfico e veremos que o conceito de governo como um grande elefante branco é insustentável no mundo em que vivemos. Acima de tudo, aprenderemos a usar melhor a mais importante arma que a democracia nos outorga - o voto.
Agora é Dilma 2014 na cabeça! E que um novo Brasil nasça em 2018!
(*) É Engenheiro Aeronáutico, ITA, 2006, e mestre em Engenharia Financeira, pela Cornell University. Atualmente, doutorando do Finance PhD, da S C Johnson School of Management - Cornell University.

Nota do Blog: Com sólidas bases técnicas, o autor trata da situação da economia política do Brasil e das nossas perspectivas, em anos vindouros, e, com boa dose de ironia, proclama a reeleição de Dilma em 2014, como uma forma de evitar um desastre maior, com o retorno de Lula, na condição de salvador da pátria.

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