Em função das três
greves docentes, de 2005, 2006 e 2007, que somaram quase onze meses de
paralisação institucional, a Universidade Estadual do Ceará (Uece) levou quase
cinco anos para acertar e regularizar o seu calendário acadêmico,
compatibilizando as atividades da graduação com as da pós-graduação, que
praticamente não sofreram solução de continuidade.
É verdadeiro reconhecer
que, como resultado desses movimentos paredistas, houve conquistas importantes,
com destaque para: a aprovação de um Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos
(PCCV), que equiparou os corroídos salários do magistério da Uece com os das
congêneres federais; a abertura de vagas, ainda que modesta, para concurso
docente; e uma majoração relativa dos valores para o custeio da universidade,
em que pese configurar uma condição sub-financiamento.
Esses ganhos trouxeram
uma paz interior que perdurou por mais de um lustro, propiciando aos gestores
da Uece, de 2008 a
2012, um período em que essa universidade experimentou avanços qualitativos,
tanto na graduação como na pós-graduação, culminando no reconhecimento oficial
da Uece como uma das melhores universidades estaduais do Brasil.
Agora, no desenrolar de 2013, a insuficiência de
recursos financeiros regulares para manutenção, sobretudo nas unidades
interioranas, associada à demora na execução de um concurso público para reposição
e expansão do quadro docente e à não regulamentação das vantagens auferidas em
2008, fomentaram um crescente nível de descontentamento, entre professores, o
que redundou em decretação de greve, em assembleia geral, realizada em 29 de
outubro de 2013.
Em 1º de novembro do ano
corrente, o Colegiado do Curso de Medicina, em atendimento à convocação
extraordinária, discutiu a decisão tomada na assembleia aludida, ponderando os
seus prós e contras, daí emanando as seguintes deliberações principais: 1) a
continuidade das atividades do Internato, incluindo as alusivas à colação de
grau da turma de 2013; 2) a conclusão do presente semestre para os novos
internos de 2014; 3) o prosseguimento das aulas práticas que ocorrem nos
serviços fora do campus do Itaperi; e
4) o respeito à decisão individual do docente, que se sinta constrangido a
entrar em greve, resolva ministrar suas aulas.
O colegiado da Medicina considerou
que as razões para a greve eram justas e mereciam a solidariedade do corpo
docente, mas fez restrição quanto à oportunidade da deflagração da mesma, nesse
momento, deixando claro que o curso médico da Uece, não era melhor e nem mais
importante do que qualquer outro curso ueceano, sendo apenas um pouco diferente
dos demais, à conta de suas particularidades. Esse posicionamento contou com o
aval majoritário do corpo discente, que se postou contrário à greve na Uece,
nas atuais condições.
Por fim, espera-se que
governantes e grevistas tenham a sensibilidade para o diálogo capaz de chegar,
com brevidade, a um acordo saudável, evitando-se maiores desgastes para as
partes envolvidas nesse novo embate.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública-Uece
* Publicado In: Conselho, 102: 7,
novembro-dezembro de 2013. (Informativo do Conselho Regional de Medicina do
Estado do Ceará).
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