terça-feira, 7 de janeiro de 2014

SONHOS PODEM SE TORNAR REALIDADE



















Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O meu provedor, UOL, no dia 03.07.13, publicou a opinião dos mais diversos especialistas em política, diante dos rumores que têm vindo das ruas. Tais rumores não são oriundos da Turquia ou do Egito: são das nossas próprias cidades. E, como em sonhos visitados por nós mesmos, faz mais sentido o que acontece por aqui.
Da Bahia, ouviu-se o seguinte: A história do Brasil, desde a colônia, vem sendo marcada pela desigualdade social e por uma dominação fortemente autoritária... As manifestações das últimas semanas fugiram ao padrão costumeiro dos protestos políticos.
De Goiás, foi registrado: Nas grandes cidades, o que vimos foi um conglomerado de insatisfações que, mesmo sem se articularem em projetos ou em agendas articuladas ou afuniladas, se misturaram nas ruas de forma inédita.
Um comentador maranhense escreveu: Portanto, uma das singularidades da "primavera brasileira" foi a conjugação de movimentos de novo tipo, com padrões tradicionais de mobilização e ação coletiva, além da combinação, numa visada abrangente, de questões urbanas (que predominaram no país) com a questão agrária, conferindo uma "cor local" ao movimento...
Em Minas Gerais, disseram:  De repente, todos são pegos de calças curtas, no meio do torpor, contra uma lista variada de desvarios que são cometidos no âmbito das instituições democráticas. As manifestações, que surgiram no Brasil, acometem tanto os políticos profissionais, quanto os analistas de uma incerteza sem precedentes. Para onde estamos indo? O fato é que ninguém sabe.
Um articulista do Pará afirmou: As manifestações seguem o mesmo ritmo das que ocorrem em outros Estados da Federação, tendo, por motivação básica, a insatisfação dos jovens com a política e com os políticos. Se, em Belém, elas iniciaram com a demanda do passe livre, seu avanço acabou por transformá-las em estradas cognitivas, que têm por consequência o surgimento de postulações difusas e variadas, algumas, até, próximas às postulações de direita, como a que pede a redução da idade mínima para adolescentes infratores, bem exemplificadas em alguns cartazes.
O Paraná ressaltou: Qualquer análise, feita sobre um evento em andamento, é sempre mais difícil, do que de um fenômeno que possamos, por um motivo ou outro, dizer que terminou.
As manifestações que ora observamos estão em processo, em andamento, assim o que eu escreverei considera esta condição. Além disso, tomarei como elemento de comparação os protestos ocorridos, principalmente, nas cidades de São Paulo e, também, do Rio de Janeiro.
O Estado de Pernambuco concluiu: Estamos diante de grandes mudanças, profundas repercussões e longínquos alcances, das manifestações sociais de Norte e Sul do Brasil, que tiveram, no dia 20 de junho, seu ápice, e que poderiam ser caracterizadas como uma forma de catarse geral. Como toda catarse – no sentido psicanalítico mais profundo – ela ainda ecoará por muito tempo, à guisa de redefinição ampla já em curso. Assim, estamos diante de nosso próprio ponto de inflexão. Estamos diante do espasmo fundamental, gerador de nova paginação nos muitos domínios da vida pública e privada nacional.
No Rio Grande do Sul, um especialista declarou: ... Nesse contexto, Porto Alegre trouxe uma especificidade que é importante destacar. Formou-se, aqui, uma aliança política, até então, improvável, entre partidos e grupos políticos que, embora ideologicamente de esquerda, costumavam atritar uns com os outros, em razão de divergências históricas, em relação às suas táticas, estratégias e objetivos. Socialistas e anarquistas se aliaram para formar o principal articulador e protagonista dos movimentos de protestos na cidade: o Bloco de Lutas pelo Transporte Público.
Essa aliança veio sendo articulada desde no ano passado, e se concretizou em janeiro agora, reunindo, num mesmo bloco, o PSOL, o PSTU, o PCB, alguns set ores do PT, organizações anarquistas (como a FAG, a Utopia e Luta, o Moinho, Negro, e a Resistência Popular), grêmios estudantis, os DCEs da UFRGS e PUC-RS, movimentos sociais e sindicatos, como a dissidência do Sindicato dos Rodoviários.
Um carioca exclamou: Os combustores da iluminação pública, as vidraças do Tesouro e de outras casas eram espatifadas a pedradas. Os bondes eram virados, arrebentados e incendiados, outros atravessados ao longo da rua para servirem de trincheiras. Outros veículos aumentavam as barricadas. Generalizava-se o tumulto, reproduzindo-se, as mesmas cenas, em quase todas as ruas centrais, como em vários bairros, de forma idêntica ao Rio de Janeiro, quando era a Capital Federal.
Em São Paulo, disseram: Os jovens das periferias ganharam visibilidade, nas metrópoles brasileiras, em meados dos anos 1990. O estudo de Hermano Vianna - O mundo funk carioca -, foi o primeiro a chamar a atenção para um tipo de manifestação juvenil que se desenvolvia, de maneira "invisível", aos olhos da Academia e da mídia. As manifestações "visíveis", até então, se limitavam aos jovens militantes dos movimentos estudantis, cujo embate contra o Estado Autoritário estava na ordem do dia. A maioria dos integrantes destes protestos era composta por universitários, brancos e pertencentes à classe média.
Pergunto, enfim: o que desejam as ruas? Melhores serviços públicos e o combate à corrupção, ou uma reforma partidária? O plebiscito sugerido pela presidente Dilma é constitucional ou não? Estas questões representam perguntas decisivas, mas as respostas são incertas.
A comunidade jurídica encontra-se dividida. José Afonso e Marcelo Cerqueira dizem que não pode haver plebiscito que implique em mudança da Constituição. Ministros como Celso Mello e Roberto Barroso, por sua vez, afirmaram que pode haver, sim. Contudo, para o Tribunal Superior Eleitoral, parece mais correto ouvir o público: isso é bom para a democracia.
No entanto, é indispensável que regras e prazos sejam respeitados. Por quê? Respondeu, poeticamente, a ministra Carmen Lucia: Cuidado por onde andas, pois é sobre meus sonhos que caminhas.
Eu afirmo, com muita apreensão: É sobre os sonhos democráticos, da Ética e da eficiência do Governo, que os sonhos das ruas caminham. Tais aspirações não podem ser alteradas, pelo fato de o sonho representar o som que vem das ruas brasileiras. Não esqueçam que o sonho vem antes de o fato acontecer, ou seja, ele já conhece o que vai ocorrer. Em outras palavras: o sonho é, quase sempre, um anúncio profético.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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