Por Ricardo
Alcântara (*)
A verdade, quando não
agrada, dói. E quando ela surpreende, pode até acamar o surpreendido: a
reclusão do governador Cid Gomes para cuidar da saúde coincidiu com o momento
em que perdeu as condições de sustentar sua empáfia imperial.
Àquele que até pouco
tempo se percebia com poderes para determinar quando e como seria iniciado o
processo eleitoral de sua sucessão, tratou a realidade de apresentar a fatura:
a disputa começou e ele não tem sequer um candidato, ainda.
Tão logo o senador
Eunício Oliveira deu sinais de que iria mesmo adiante com sua candidatura ao
governo estadual, familiares do governador passaram a emitir sinais públicos de
preocupação, recibo assinado da incerteza que os ameaça agora.
Ivo Gomes disse: “já
vencemos dificuldades maiores”. Confessou “dificuldades”, se entendi. Ciro, o
mais velho, foi ainda mais previdente ao defender Cid Gomes no cargo até o fim
do mandato como condição mais segura para eleger o sucessor.
No indiscreto
Facebook, até a irmã Lia, mais refratária a manifestações políticas, anunciou a
iminência do naufrágio: “Quando começa a fazer água, os ratos abandonam o
navio”. Enfim, a linguagem nos estrutura e por isso é tão reveladora.
Se não foi bom que
tenham sido surpreendidos, pois para muitos parecia previsível um quadro real
de disputa, não é mal que tenham, enfim, compreendido, talvez a tempo, a
extensão das dificuldades: uma vez compreendida, mais fácil mudá-la.
A bem da verdade, a
coisa não está fácil para ninguém. Vejam a presidente Dilma: mesmo prestigiada
com bons índices de aprovação, a espreita uma expectativa de mudanças acolhida
por um percentual superior a 70 por cento dos eleitores.
É um quadro cuja complexidade
põe a nu a superficialidade de leitura com que o governador Cid Gomes cogitava
terem seus feitos prevalência sobre a conjuntura, que impõe uma demanda
crescente por ganhos cada vez maiores. Parecia fácil?
A parte mais fácil, e
mais facilmente popularizada, foi realizada: a ampliação do mercado de consumo.
A mais difícil, e que poderá nos permitir um crescimento de fato sustentável,
nem começamos: o fortalecimento da nossa base produtiva.
Como seria possível
manter um ‘projeto’ – termo mântrico do lulismo – que aumenta o consumo em
volume oito vezes maior do que o aumento da produção industrial? Essa conta não
fecha. É a crônica anunciada de desajustes futuros.
No plano estadual,
apesar de aspectos negativos, há boas coisas na prateleira do governo a serem
defendidas em campanha. Tacanho nisso tudo é ter o governador cogitado que sua
obra rivalizaria com sobras sobre as novas expectativas.
Tivesse ele feito uma
leitura da realidade menos condescendente consigo mesmo, talvez não estivesse
passando pelas dificuldades atuais em se posicionar de maneira segura diante de
sua própria sucessão. Porque, ali, o medo é recente.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário