sexta-feira, 25 de abril de 2014

Demócrito Rocha na Venezuela e o Jaguaribe

Antero Coelho Neto (*)
Revendo meus artigos publicados neste jornal, desde 1981 (32 anos) no longo e proveitoso passado de minha vida, tive também momentos de muitas saudades. Ao reler os escritos durante meus anos vividos na Venezuela, com minha família, como consultor da Organização Mundial da Saúde, lembrei da beleza do país e de sua situação econômica, social e política daquela época. Vivendo uma “era de ouro” ocasionada pelo “boom” do petróleo, sua população até exagerava em alguns aspectos. País lindo, tranquilo e gostoso de se viver naquele tempo.

Lá , trabalhei assessorando universidades e serviços de saúde, todos satisfeitos com a presença e participação da nossa Organização. E ai encontrei o meu artigo publicado neste jornal em 30.10.87, falando de Demócrito Rocha na Venezuela, para o qual solicito, a meus “eternos leitores”, principalmente os poetas, a oportunidade de reproduzir parte do mesmo. “Há poucos dias, aqui na Venezuela, prestou-se uma homenagem ao poeta Guillermo de León Calles. Para o evento, o Dr. Manuel Adrianza Hernandez proferiu um discurso, verdadeira obra literária, posteriormente publicado e divulgado. Seu título é O Poeta e Seus Rios e nele citou vários poetas internacionais e seus poemas destacando a importância dos rios para os povos e para os homens.
E lá, entre Neruda, Hegel, Jorge Manrique, Andrés Elloy Blanco, Walt Whitman e outros, está o nosso Demócrito Rocha com o, também nosso, Rio Jaguaribe. Creio que o mais correto será transcrever o próprio Adrianza, quando diz: “A Edição de 1976 de Literatura Cearense, da Academia Cearense de Letras, nos traz o belo poema O Rio Jaguaribe, do poeta brasileiro Demócrito Rocha. O poeta chora o sangue da sua região que se esvai uma vez ao ano, durante as chuvas, para o mar e compara o rio com uma artéria aberta por onde sua região sangra periodicamente. E faz, também, uma excelente tradução para o espanhol do conhecido poema, que aproveito para mandar para o amigo Demócrito Dummar”.

Interessante é comprovar a importância das identidades geográficas e dos sentimentos humanos. De um lado, a união entre os homens que convivem em áreas semelhantes, com as mesmas vicissitudes e problemas. Do outro, a igualdade universal dos sentimentos maiores dos homens, o que nos aproxima numa enorme e poderosa corrente ou rede de pensamentos e sofrimentos semelhantes. Venezuela dos meus tempos e rios. Quanta alegria e quanta saudade de ti, mas também de tristeza, ao lembrar que também convivemos com a baixa brusca do preço do petróleo, naquela época, e as trágicas consequências advindas, como a grande revolta, em 1989.
E agora, novamente convulsionada pela política, “dita” esquerdista, desse presidente Maduro. Maduro que já está mais do que “fruta passada”... e que necessita de um rio para sua vida. Rio para, pelo menos, levá-lo para o mar... enfim. Como, talvez diria, Demócrito Rocha se ainda estivesse vivo.
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo, Opinião, de 23/4/2014. p.8.

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