Costumam dizer que Política é “a arte do possível”. Discordo. A arte do possível é a Economia. A Política é, ou deveria sempre ser, “a arte de provar como possível o que para uma geração condicionada aos limites do seu tempo parecia impossível.”
As propostas de Marina Silva e Rede Sustentabilidade
já seriam desconcertantes, por si mesmas, para o convencionalismo dos programas
partidários no Brasil, todos eles comprometidos com uma concepção declinante de
Desenvolvimento.
Some-se aí a desconcertante conciliação que ela
realiza entre uma compreensão intelectualmente visionária de uma ambientalista
antenadíssima com crenças de ordem religiosa que se batem com outros aspectos
da agenda contemporânea.
A esse pendor excêntrico, se ajunta agora na disputa
eleitoral a eclosão inesperada de uma candidatura cujos compromissos, seja por
lealdade pessoal ou imposições conjunturais, desafiam a desenvoltura do
discurso original da candidata.
Marina leva, em relação a seus adversários diretos,
esta desvantagem: o concerto da candidatura é movediço, até pelas
circunstâncias de quem, de início, apenas buscou abrigo de um palanque e, de
repente, se viu ela mesma a protagonista.
A recente pesquisa Datafolha colocou isto em
evidência: seu potencial está nas ruas. Ali, Marina surge com 21% das
indicações sem alterar os percentuais de seus adversários. Havia uma
‘orfandade’ de 1/5 do eleitorado que ela agora acolhe!
O curso da campanha dirá se entre eleitores de Dilma
Rousseff e Aécio Neves há uma parcela em latente desconforto, apta, portanto, a
cogitar pela adesão a uma experimentação que recusa a dicotomia surrada entre
petistas e tucanos.
E seu desempenho nesse curso de campanha – o posicionamento
estratégico de sua comunicação – dirá se, de fato, irão prevalecer, em meio às
contradições que moldam sua candidatura, os traços essenciais de sua
singularidade.
Em Marina, o que seduz não está muito distante do
que afasta. Em Aécio e Dilma, os fatores potenciais de sedução e rejeição são
diferenciados. Na candidata da Rede, ao contrário, atrai e afasta os mesmos
aspectos de sua expressão.
O que nela inspira confiança – uma levada meio outsider
em relação ao execrado modelo de político profissional – também pode, se não
for habilmente exposto, suscitar insegurança naqueles que mais têm a perder: o
cidadão de baixa renda.
A leveza do discurso pela dignificação da Política
atrai jovens de boa formação e renda familiar estável. Mas há de convencer
ainda sobre coisas que afetam a dimensão rotineira da vida dos mais pobres.
Elas querem conforto e segurança.
E é justo neste segmento – o mais numeroso, agora
mais esclarecido e cada vez mais exigente – que a mensagem governista penetra
com mais vigor, reivindicando a autoria de ações de impacto e vendendo a eles o
temor de retrocessos.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
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sem dono. Se gostou, passe adiante.
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