quarta-feira, 20 de agosto de 2014

SEM INOVAR NÃO DÁ PARA CONTINUAR O SUS


Breitner Gomes Chaves (*)

Em saúde, tudo que não agrega valor aos pacientes deve ser considerado desperdício

 A estrutura de saúde pública no país tem sido sustentada por anos praticamente de forma inalterada. Ao longo da instalação do SUS foi consolidando-se plano de assistência “pobre para pobres”, tendo ápice na implantação do “Mais Médicos”. De forma desordenada, gestores tentam a manter a velha estratégia de saúde da família, apenas com novas roupagens, focada no aumento do volume de produção e no marketing político, sem agregar valor ao paciente. A decadente política esquece principio básico: para construir novos resultados, é preciso mudar a estratégia. Na verdade, a rede de atenção consiste em emaranhado de serviços fragmentados, sem complementaridade e sistematização. 
Em saúde, tudo que não agrega valor aos pacientes deve ser  considerado desperdício. É preciso fazer sempre a pergunta: esse processo agrega valor ao paciente? Se a resposta for não, a operação deve de imediato ser substituída, corrigida ou eliminada de forma honesta e transparente. Essa simples pergunta, quando bem aplicada, é capaz de realizar intensa transformação dos sistemas de saúde. É preciso desconstruir o atual modelo de atendimento da atenção básica, abandonando clichês e jargões acadêmicos para apresentar melhorias concretas, com foco em resultados, e voltados para as necessidades dos pacientes, traduzidos não em números, mas em qualidade de vida e retorno as atividades funcionais dos usuários.
Qualquer melhoria em um sistema de saúde sem centralização de todos os serviços localmente em única unidade de gestão como ocorre nos modelos atuais é árdua e dispendiosa. Após a centralização e o devido realocamento de linhas de cuidado, o segundo passo seria retirar o foco do volume de produção de atendimento para atuar nas condições de saúde dos pacientes, agregando cuidados a grupos com necessidade similares e times de atenção integral. Consiste hipocrisia velada afirmar que o foco está no paciente sem a existência de mensuração dos resultados das condições de saúde destes. É preciso ter coragem para substituir o paradigma da produção e demanda imediata para o manejo das reais necessidade dos usuários.
Estima-se que 70-80% da população dependa exclusivamente do sistema publico de saúde. O setor carece de ideais inovadoras e executivos atuando de forma profissional. Neste campo, querer demonstrar serviço partidário é extremamente lesivo a população, tanto do ponto de vista orçamentário como de mortalidade.

 (*) Médico, mestre em saúde pública.
Fonte: O Povo, 28/07/14. p.11.

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