sábado, 23 de agosto de 2014

SANTA EDITH STEIN: filósofa e mártir do século XX



Ave crux, spes unica!
Edith Stein nasceu na Alemanha, na cidade de Breslau (hoje Wroclaw, no sudoeste da Polônia), a 12 de outubro de 1891, em uma próspera família de judeus, no “Dia do Perdão" (Yon Kippur), a grande festa hebraica. Aos dois anos, ficou órfã de pai. A mãe e os irmãos mantiveram a situação financeira estável e a educaram na fé judaica.

Desde a infância, Edith era brilhante nos estudos e mostrou forte determinação, caráter inabalável e bastante obstinação. Na adolescência, passou por uma crise existencial: abandonou a escola, as práticas religiosas e a crença consciente em Deus. Depois, terminou os estudos em Filosofia, com graduação máxima, na Universidade de Breslau, recebendo o título de Doutora em Fenomenologia, em 1917.
Em Göttingen, reúne-se ao grupo da Fenomenologia de Edmund Husserl, de que faziam parte Dietricht von Hildebrand e Max Scheler. Dedica-se com empenho às pesquisas acadêmicas, mas, em agosto de 1914, interrompe os estudos e ingressa na Cruz Vermelha para colaborar no cuidado das vítimas da I Guerra Mundial. Husserl a convida para ir a Friburgo organizar os seus manuscritos em 1916.

Os anos de estudos passam até que, em 1921, ela encontra o “Livro da Vida”, uma autobiografia de Santa Teresa de Ávila, que Edith o lê, durante uma noite de insônia. O “Livro da Vida” é um convite para que a alma siga por caminhos de oração. No dia seguinte, Edith providencia um missal e um catecismo que estudará detidamente.
Tocada pela luz da fé, converteu-se e foi batizada em 1º de janeiro de 1922, escolhendo o nome cristão de Teresa, sendo crismada pelo Bispo de Espira, no dia 2 de fevereiro desse mesmo ano. Mas a mãe e os irmãos nunca compreenderam ou aceitaram sua adesão ao catolicismo. A exceção foi sua irmã Rosa, que se converteu e foi batizada, após o falecimento da mãe, em 1936.

Edith Stein começou a servir a Deus com seus talentos acadêmicos. Lecionou numa escola dominicana, foi conferencista em instituições católicas e finalizou como catedrática numa universidade alemã. Em 1932, é-lhe atribuída uma cátedra numa instituição católica, na qual desenvolve a sua própria antropologia, identificando um modo de unir ciência e fé.
Em 1933, noites tenebrosas cobrem a Alemanha, com a chegada de Hitler e o seu partido nazista ao poder. Todos os professores não-arianos foram demitidos, incluindo Edith Stein. Por recusar-se a sair do país, os superiores da Ordem do Carmelo a aceitaram como noviça, em outubro de 1933, quando ela ingressa no Mosteiro das Carmelitas, em Colônia, após doze anos de espera. Em 1934, ela tomou o hábito das carmelitas e o nome religioso de Teresa Benedita da Cruz. Quatro anos depois, em 21/04/1938, realizou sua profissão solene e perpétua, recebendo o definitivo hábito marrom das carmelitas.

Nos intervalos entre as atividades do convento, escreve muitas obras, como o livro “Ser Finito e Ser Eterno”, um tratado sobre o homem e Deus em que se ocupa da Einfühlung, ou empatia, tema próprio da Fenomenologia.
A perseguição nazista aos judeus alemães intensificou-se e Edith foi transferida, em 31/12/1938, para o Carmelo de Echt, na Holanda, onde aprenderá seu sétimo idioma, o holandês. Um ano depois, sua irmã Rosa foi juntar-se a ela nesse Carmelo, pois desejava seguir a vida religiosa, sendo aceita como irmã leiga carmelita.

A II Guerra Mundial começou e a expansão nazista avança pela Europa e pelo mundo. A Holanda foi invadida e anexada ao III Reich em 1941. As superioras do Carmelo de Echt tentaram, em vão, transferir Edith e Rosa para um outro convento, na Suíça, mas as autoridades civis suíças não facilitaram e a burocracia arrastou-se sem definição.
Os bispos católicos dos Países Baixos, em julho de 1942, emitem um comunicado contra as deportações dos judeus. Em represália a essa nota, a Gestapo, em 2/08/1942, invade o convento na Holanda e prende Edith e sua irmã. As duas, juntamente com outros 242 judeus católicos, são levadas para o campo de concentração de Westerbork.

Em Westerbork, Edith Stein, ou a "freira alemã", como dela recordaram alguns sobreviventes, distinguiu-se muito de outros presos, dominados por desespero, lamentos ou desolação. Ela procurava consolar os mais aflitos, erguer o ânimo dos abatidos e cuidar, do melhor modo possível, das crianças. Desse modo, ela viveu alguns dias, suportando com doçura, paciência e conformidade a vontade de Deus, seu intenso sofrimento, e dos demais prisioneiros.
No dia 7 de agosto, ao lado de sua irmã e um grupo de 985 judeus, ela parte para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Finalmente, em 9 de agosto de 1942, a Irmã Teresa Benedita da Cruz, junto com a sua irmã Rosa, morre nas câmaras de gás e depois tem seu corpo queimado. Assim, por meio do martírio, Santa Teresa Benedita da Cruz, recebeu a coroa da glória eterna no Céu.

Como antevendo o seu martírio, ela escreveu em 1938: “Tenho certeza de que Deus aceitará minha vida. ... Esta é uma pequena consolação.
Beatificada a 1º de maio de 1987, a irmã carmelita Teresa Benedita da Cruz foi canonizada em Roma, em 11 de outubro de 1998, pelo papa João Paulo II. A solenidade de canonização, assistida por milhares de pessoas, teve a presença de personalidades ilustres, civis e religiosas, da Alemanha e da Holanda, além de alguns sobreviventes dos campos de concentração que a conheceram e de vários membros da família Stein.

Na sua canonização, Edith Stein foi apresentada como modelo de vida cristã. Santa Teresa Benedita da Cruz buscou no recolhimento interior a fonte de um dinamismo avassalador que a levou a uma produção de muitos ensaios filosóficos e teológicos, num dos quais explicitou: “Quanto mais profundamente alguém é atraído para Deus, tanto mais intensamente deve ‘sair de si’ para irradiar ao mundo vida divina”.
Na cerimônia de sua canonização, o Papa João Paulo II mencionou que o ato deveria ser uma ‘ponte de compreensão’ entre católicos e judeus. “A declaração de santidade de uma pessoa que viveu a espiritualidade católica deve ser interpretada como uma proclamação de que os melhores exemplos para os católicos são os santos, entre os quais está Edith Stein.”

Como autêntica judia, Edith foi solidária com os sofrimentos de seu povo; como cristã autêntica, Teresa soube encontrar a Cruz nos horrores da perseguição nazista. “Não há cristianismo verdadeiro, genuíno, sem participar, de algum modo, no mistério da Cruz. Os santos compreenderam essa realidade, e a Cruz os eleva até os cumes do amor de Deus: dar a vida.” Disso, para Edith, resulta a saudação à Cruz como a única esperança.
Em 1999, o sumo pontífice João Paulo II proclamou Santa Edith Stein “co-Padroeira da Europa”, junto com as santas Brígida e Catarina de Sena. A Igreja a tem como modelo de uma mulher que considerava injusto produzir filosofia e cerrar os olhos à miséria.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sociedade Médica São Lucas

 Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, 10(83): 3-4, junho de 2014.  Escrito com base em textos disponíveis na internet.

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