Norbert Hirschhorn teve papel-chave na definição das medidas certas do soro caseiro, considerado "o avanço médico mais importante" do século 20. |
Da BBC Health Check
A fórmula, hoje, é mundialmente conhecida: uma solução
simples de açúcar, sal e água. Uma mistura que pode ter salvado até 50 milhões
de pessoas.
Encontrar um equilíbrio entre esses elementos foi o feito
essencial dela, e o médico Norbert Hirschhorn teve um papel-chave na descoberta
das medidas certas na preparação do soro caseiro.
Um caso emblemático: depois de dois dias sofrendo
diarreia, um bebê egípcio de três meses não tinha forças nem para levantar a
cabeça e mamar no peito da mãe.
Médicos temiam pelo pior: a diarreia grave é uma das
principais causas de morte em países em desenvolvimento.
Com um tratamento simples, pouco mais de quatro horas
depois ele estava bem o suficiente para retomar a amamentação - tudo graças a
uma solução barata de açúcar e sal.
Hirschhorn descreve a transformação causada pela terapia
de reidratação oral como incrível.
"Você entra em uma sala e a criança ou o adulto está
perto da morte. Eles têm olhos fundos, respiram acelerado, a pele e as unhas
estão azuladas", conta.
Ver alguém se recuperar é "como ver Lázaro voltar
dos mortos - um milagre", diz ele.
Medida certa
Hirschhorn se envolveu em pesquisas sobre terapia de
reidratação oral em 1964.
Ele prestava serviço militar nos Estados Unidos no
serviço público de saúde e foi enviado para o que é hoje Bangladesh, que
padecia de uma grave epidemia de cólera.
A cólera causa diarreia grave e pacientes rapidamente
perdem muita água e sais. Os infectados ficam extremamente desidratados e podem
entrar em choque e morrer em poucas horas.
Na região, até 40% dos moradores que não tratavam cólera
estavam morrendo.
À época, o tratamento de reidratação era administrado por
via intravenosa no hospital. Era caro, e muitas vezes, inalcançável para os que
mais precisavam dele.
O objetivo era encontrar uma maneira de dar o tratamento
por via oral e assim ajudar muito mais gente.
Outros haviam tentado no passado encontrar o equilíbrio
certo de açúcar, sais e água para um tratamento oral. Hirschhorn trabalhava com
o capitão Robert Phillips, que havia tentado ele próprio, sem sucesso, sua
própria mistura anos antes. Vários pacientes morreram durante os testes.
Phillips estava muito receoso em deixar Hirschhorn
realizar sua própria pesquisa.
"Ele já havia tentado a solução quando estava na
Marinha em Taiwan e nas Filipinas, mas não acertou na medida, que era muito
concentrada, e piorou as coisas", disse Hirschhorn.
O trabalho de Hirschhorn se baseou nos estudos de
Phillips e de outro colega, David Sachar. Sachar havia mostrado que o corpo
poderia transportar sódio assim que glicose fosse adicionada - algo fundamental
no combate à desidratação.
Mas a medida correta era fundamental: a quantidade maior
ou menor de qualquer um dos ingredientes poderia fazer com que a solução não
apenas não funcionasse, mas causasse danos mais graves.
"As proporções são cruciais. Para obter a absorção
ideal de água, você precisa da mesma quantidade de glicose e sódio", disse
Hirschhorn.
Foi um estudo pequeno, de apenas oito pacientes, no qual
a terapia de reidratação foi aplicada usando uma sonda nasogástrica, que provou
que a combinação funcionava.
No hospital e em casa
Hirschhorn disse que havia descrença de que uma mistura
tão simples pudesse ser tão eficaz. "Sua simplicidade era sua própria
inimiga. Levou muito tempo, muito tempo para convencer os pediatras de que
fosse segura."
A publicação científica Lancet descreveu a terapia de
reidratação oral como "potencialmente o avanço médico mais
importante" do século 20.
O Unicef, fundo da ONU para infância, disse que nenhuma
outra inovação médica do século "teve o potencial de evitar tantas mortes
em um curto período de tempo e custo tão pequeno".
Agora, a eficácia é mundialmente conhecida e usada por
médicos em clínicas e em casas por pais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que a
diarreia é a segunda principal causa de morte de crianças menores de cinco anos,
responsável pela morte de cerca de 760 mil crianças por ano.
E qual é a sensação de saber que seus esforços ajudaram a
salvar mais de 50 milhões de pessoas?
Hirschhorn conta a história de uma viagem ao Egito,
muitos anos depois de seu trabalho clínico.
Durante uma conversa com um taxista, descobriu que o
filho dele havia sido salvo por reidratação oral quando criança. O garoto
cresceu para virar um jovem estudante, realizando seus próprios estudos
científicos nos EUA.
"Essa troca", diz Hirschhorn, ainda
visivelmente emocionado, "teve um impacto grande em mim, tanto quanto
todas as estatísticas juntas".
Fonte:
UOL, Notícias, em 4/08/2014 / BBC
Brasil.
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