quarta-feira, 27 de setembro de 2017

BARBA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Barba são os pelos que crescem no queixo, nas faces e na frente do pescoço do homem. O estudo da barba é chamado de Pogonologia.
O costume de preservar ou retirar os pelos da face, mais do que um indicador de um hábito corriqueiro, abre caminhos para que compreendamos as diferenças socioculturais, entre as classes sociais dos mais diversos povos.
Na era Paleolítica (da Pedra Lascada), 40 mil anos atrás, os homens da caverna descobriram como raspar os pelos do rosto utilizando lascas de pedra amoladas. Apareceram, assim, os primeiros sinais de vaidade masculina, expressas nas pinturas rupestres, apresentando homens com barba e homens sem ela. Foram encontrados silexes afiados e conchas marinhas que representaram, certamente, as primeiras lâminas de barbear.
No Egito Antigo, os membros da nobreza cultivavam a barba como um sinal de status - os senadores de Roma são exemplos disso - enquanto, os da classe sacerdotal, optavam por uma total depilação dos pelos para se distanciar dos animais.
As estátuas dos filósofos gregos, em geral, são acompanhadas de figuras com fartas barbas. Dizem que Alexandre, o Grande, proibia o uso da barba entre seus soldados, pois a mesma trazia desvantagens às suas tropas em caso de batalha corpo a corpo, costume adotado pela soldadesca romana. Raspar os pelos e a barba era permitido ao futuro cidadão romano, só após a puberdade, como um rito de passagem. Ali surgiu o creme de barbear (à base de óleo de oliva) visando tornar esta prática diuturna e menos dolorosa.
Na Idade Média, com a cisma da Igreja, os sacerdotes do rito Greco Ortodoxo deixaram crescer enormes barbas, enquanto os padres da Igreja de Roma a raspavam, para não serem confundidos com cristãos dos ritos orientais e, muito menos, com judeus ou muçulmanos.
Além disso, o uso do bigode gerava bastante polêmica entre os cristãos medievais, pois estes eram ostentados pelas levas de bárbaros germânicos que invadiam o claudicante Império Romano. Fato semelhante acontece, hoje, nos Estados Unidos da América do Norte, em relação aos imigrantes hispânicos.
Quanto a deixar a barba crescer ou não, nos últimos séculos, na Europa, o hábito passou a fazer parte da vaidade masculina. Surgiram novos tipos de navalhas - artefatos dos mais estranhos – que foram sendo aperfeiçoadas do século XVIII em diante, e que se perpetuam, até hoje, sem se encontrar uma que seja completamente indolor, mesmo em nossa era eletroeletrônica.
A invenção dos irmãos Kampfe (americanos), e suas navalhas em T, influenciaram o caixeiro-viajante King Camp Gillette que, com o auxílio de Willian Nickerson (um engenheiro do Instituto de Tecnologia de Massachusetts), criaram uma nova marca de lâmina, e barbeadores largamente utilizados por homens e mulheres das várias partes do planeta.
Durante o século XX, esse quadro mudou: apresentar um rosto lisinho virou sinônimo de civilidade e higiene, ao passo que os barbudos eram considerados anti-higiênicos. Foi nas décadas de 1970 e 1980, que, cavanhaques e bigodes começaram a virar uma febre entre os homossexuais norte-americanos.
Nos dias atuais, a barba está associada aos temíveis terroristas do Islã ou a pessoas com um visual alternativo. Mesmo sem indicar, obrigatoriamente, um determinado comportamento ou opção, a barba revela como as diferentes culturas salientam seus valores de unidade e diferença. Sigmund Freud, ele mesmo, autor do livro 'Preconceito das Pequenas Diferenças', passou a ser um cultivador deste fânero facial, após a fama. No Brasil, após a subida de Lula, voltou a moda da barba como símbolo de Poder. É possível perceber que tudo é questão de moda!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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