Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Barba são os pelos que crescem no queixo, nas faces e na frente do
pescoço do homem. O estudo da barba é chamado de Pogonologia.
O costume de preservar ou retirar os pelos da face, mais do que um indicador
de um hábito corriqueiro, abre caminhos para que compreendamos as diferenças socioculturais,
entre as classes sociais dos mais diversos povos.
Na era Paleolítica (da Pedra Lascada), 40 mil anos atrás, os homens da
caverna descobriram como raspar os pelos do rosto utilizando lascas de pedra
amoladas. Apareceram, assim, os primeiros sinais de vaidade masculina,
expressas nas pinturas rupestres, apresentando homens com barba e homens sem
ela. Foram encontrados silexes afiados e conchas marinhas que representaram,
certamente, as primeiras lâminas de barbear.
No Egito Antigo, os membros da nobreza cultivavam a barba como um sinal
de status - os senadores de Roma são
exemplos disso - enquanto, os da classe sacerdotal, optavam por uma total
depilação dos pelos para se distanciar dos animais.
As estátuas dos filósofos gregos, em geral, são acompanhadas de figuras
com fartas barbas. Dizem que Alexandre, o Grande, proibia o uso da barba entre
seus soldados, pois a mesma trazia desvantagens às suas tropas em caso de
batalha corpo a corpo, costume adotado pela soldadesca romana. Raspar os pelos
e a barba era permitido ao futuro cidadão romano, só após a puberdade, como um
rito de passagem. Ali surgiu o creme de barbear (à base de óleo de oliva)
visando tornar esta prática diuturna e menos dolorosa.
Na Idade Média, com a cisma da Igreja, os sacerdotes do rito Greco
Ortodoxo deixaram crescer enormes barbas, enquanto os padres da Igreja de Roma
a raspavam, para não serem confundidos com cristãos dos ritos orientais e,
muito menos, com judeus ou muçulmanos.
Além disso, o uso do bigode gerava bastante polêmica entre os cristãos
medievais, pois estes eram ostentados pelas levas de bárbaros germânicos que
invadiam o claudicante Império Romano. Fato semelhante acontece, hoje, nos
Estados Unidos da América do Norte, em relação aos imigrantes hispânicos.
Quanto a deixar a barba crescer ou não, nos últimos séculos, na Europa, o
hábito passou a fazer parte da vaidade masculina. Surgiram novos tipos de
navalhas - artefatos dos mais estranhos – que foram sendo aperfeiçoadas do
século XVIII em diante, e que se perpetuam, até hoje, sem se encontrar uma que
seja completamente indolor, mesmo em nossa era eletroeletrônica.
A invenção dos irmãos Kampfe (americanos), e suas navalhas em T,
influenciaram o caixeiro-viajante King Camp Gillette que, com o auxílio de
Willian Nickerson (um engenheiro do Instituto de Tecnologia de Massachusetts),
criaram uma nova marca de lâmina, e barbeadores largamente utilizados por
homens e mulheres das várias partes do planeta.
Durante o século XX, esse quadro mudou: apresentar um rosto lisinho virou
sinônimo de civilidade e higiene, ao passo que os barbudos eram considerados
anti-higiênicos. Foi nas décadas de 1970 e 1980, que, cavanhaques e bigodes começaram
a virar uma febre entre os homossexuais norte-americanos.
Nos dias atuais, a barba está associada aos temíveis terroristas do Islã
ou a pessoas com um visual alternativo. Mesmo sem indicar, obrigatoriamente, um
determinado comportamento ou opção, a barba revela como as diferentes culturas
salientam seus valores de unidade e diferença. Sigmund Freud, ele mesmo, autor
do livro 'Preconceito das Pequenas Diferenças', passou a ser um cultivador
deste fânero facial, após a fama. No Brasil, após a subida de Lula, voltou a
moda da barba como símbolo de Poder. É possível perceber que tudo é questão de
moda!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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