terça-feira, 26 de dezembro de 2017

LUTO NA MEDICINA CEARENSE PELO FALECIMENTO DO DR. AGUIAR RAMOS


É com pesar que registro a morte do Dr. José de Aguiar Ramos, membro honorário da Academia Cearense de Medicina (ACM), da qual estava afastado do quadro de titulares por problemas de saúde, ocorrida hoje, em Fortaleza, dia 25 de dezembro de 2017.
Dr. Aguiar Ramos, quando menino residiu no bairro Otávio Bonfim, tendo estudado com o meu pai, Prof. Luiz Carlos da Silva, no Instituto Pe. Anchieta, e na sua adolescência vivenciou os chamados “Anos Dourados do Otávio Bonfim”, à época do Frei Teodoro, ofm.
Por diversas vezes, recebi dele palavras elogiosas aos nossos feitos, isso em parte pela conhecida generosidade com que ele aquinhoava seus colegas mais jovens, incitando-nos a trilhar o bom exercício profissional.
Ele foi mestre de tantos cirurgiões que sorveram seus ensinamentos na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, formando uma plêiade de oncologistas cearenses.
O seu corpo está sendo velado no Jardim Metropolitano, e após a missa, marcada para as 9 horas de 26/12/17, será cremado nessa necrópole.
Para perpetuar a memória desse insigne médico, lanço mão da reprodução de parte do discurso de posse do Ac. Huygens Garcia, pronunciado ao tomar posse na cadeira que teve o dr. Aguiar Ramos como ocupante derradeiro.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Acadêmico Titular da cad. 18 da ACM

JOSÉ DE AGUIAR RAMOS
Por José Huygens Parente Garcia
O último ocupante da cadeira 13 foi o Dr. José de Aguiar Ramos. Às 15h do dia 14 de janeiro, liguei para a residência do Dr. Aguiar, que, de imediato, aceitou em me receber. Quando cheguei na Rua Barbosa de Freitas, 1777, me deparei, na calçada, à minha espera, com a figura simpática do Dr. Aguiar Ramos. Sentamos na varanda e conversamos por mais de 3 horas, onde tive o prazer de conhecer um pouco de sua história. Incrível como Dr. Aguiar, de forma alegre e bem-humorada, relatou de forma cronológica, datas e fatos importantes que marcaram a sua rica trajetória profissional. Como se tudo estivesse programado, quando já tínhamos conversado sobre todos os temas por mim selecionados, eis que surge de repente, sua esposa, a Dra. Valdite Walter de Aguiar. Outras informações foram acrescentadas e, nessa ocasião, foi, mais uma vez, confirmado que “por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher”.
José de Aguiar Ramos nasceu em Sobral no dia 29 de julho de 1931. Concluiu Medicina na Universidade Federal do Ceará em 1959, e como relatou, havia se preparado para trabalhar no interior do estado. Havia propostas de trabalho em Senador Pompeu, Camocim e São Benedito. Dr. Aguiar escolheu São Benedito pela beleza, natureza e clima da serra de Ibiapaba. Provavelmente, o que mais influenciou, foi o convite do Dr. Chagas Oliveira. Dr. Aguiar encontrou uma cidade sem saneamento básico, mas com todas as dificuldades, inaugurou a primeira maternidade de São Benedito.
Em 1961, a convite do Dr. Roberto Cabral, retornou a Fortaleza e o destino foi a Santa Casa, precisamente no Serviço de Câncer. Aí começaria toda a carreira vitoriosa do nosso acadêmico, consolidada com o estágio, em 1962, no Hospital A. C. Camargo de São Paulo, então dirigido pelo grande cearense Fernando Gentil.
Como queria exercer uma medicina generalista, aceitou convite do Dr. Galba Araújo para um estágio no exterior. Dr. Aguiar Ramos foi certificado pela Johns Hopkins University – Baltimore – Maryland – EUA, pelo treinamento em princípios de cuidados de saúde da família, em 1980.
Dr. Aguiar Ramos foi Superintendente do Instituto Dr. José Frota e, como ele faz questão de lembrar, escolhido pelos próprios colegas. Exerceu o importante cargo de Secretário de Saúde de Fortaleza na gestão do prefeito Evandro Aires de Moura. Foi ainda presidente do Centro Médico Cearense em 1982.
Vencedor do concurso de monografias do Conselho Regional de Medicina do Ceará em 1998, recebendo o prêmio Prof. Dalgimar Beserra de Menezes, pelo trabalho intitulado “O médico e a política”.
Dr. Aguiar exerceu suas atividades médicas na Santa Casa de Fortaleza, no Hospital Geral de Fortaleza e na Casa de Saúde São Raimundo. Como reconhecimento a sua ação humanística, sempre atendendo com carinho os pacientes menos favorecidos, recebeu uma medalha comemorativa dos 150 anos da fundação da Santa Casa.
Pela sua postura ética, recebeu o diploma ético-profissional do Conselho Regional de Medicina do Ceará, em 2009. Continuando a lista enorme de homenagens, Dr. Aguiar Ramos foi homenageado, por ocasião de sua aposentadoria, pelo HGF e também pala Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Na Faculdade de Medicina, mesmo sem pertencer ao quadro docente, ficou imortalizado pela turma de 1982.2 que recebeu o nome “Turma Dr. José de Aguiar Ramos”. Como enfatizou várias vezes durante o nosso encontro, Dr. Aguiar Ramos tinha prazer em atuar amplamente na cirurgia geral e oncológica, realizado procedimentos que envolviam múltiplos órgãos e vísceras. Chegou a citar seu filho, médico cirurgião, Paulo Aguiar, renomado mastologista da nossa cidade, mas que operava somente mama! E também oftalmologistas que operavam somente a retina. Realmente é muito pouco para quem exerceu medicina da família. Obstetrícia, cirurgia geral e oncologia.
Dr. Aguiar Ramos completou 55 anos de casado com sua colega de turma, Valdite Walter de Aguiar. Inicialmente, a Dra. Valdite atuou como anestesiologista. Após a chegada dos filhos, com o objetivo de ter mais tempo para educá-los, passou a exercer a especialidade de pediatria. Dessa união, nasceram cinco filhos: Ricardo Wagner (médico), Fernando Antônio (psicólogo), Érika Elisa (médica anestesiologista, esposa do cirurgião vascular Wellington Forte), Paulo Henrique (mastologista) e Andrea Sílvia (odontóloga e professora da Faculdade de Odontologia da UFC). A família Aguiar Ramos cresceu com a chegada de nove netos.
Hoje, aos 84 anos, lúcido e sempre de bem com a vida, Dr. Aguiar Ramos, em agradável conversa nos jardins de sua casa, relembrou algumas frases memoráveis. Citando Wiliam Osler: “Medicina não é comércio, pois utiliza simultaneamente o cérebro e o coração”. Ou de sua autoria quando indaguei qual era o conselho que daria aos jovens médicos: pensem sempre no doente, pois com medicina não se enriquece. E aí, não resisti! Fiz uma pergunta que todo cirurgião deseja saber a resposta mais adequada: Quando um cirurgião deve parar de operar? E Dr. Aguiar Ramos respondeu na ponta da língua: “Quando o cirurgião ficar irritado no campo cirúrgico, culpando os auxiliares, o anestesiologista ou até mesmo a instrumentador.
Esse é o ilustre Dr. José de Aguiar Ramos! Ë uma tarefa hercúlea substituí-lo nessa Academia.
* Extraído do discurso de posse do Acadêmico José Huygens Parente Garcia, como membro titular da cadeira 13 da Academia Cearense de Medicina (ACM), pronunciado no Auditório da Reitoria da UFC, em 23/01/2014, e publicado no volume 17 dos Anais da ACM (p.238-40).

2 comentários:

Stefanie Rodrigues disse...

Meus sentimentos aos familiares, o corpo morre, mas a alma continuará Viva para toda eternidade.

Stefanie Rodrigues disse...

Meus sentimentos aos familiares, o corpo morre, mas a alma continuará Viva para toda eternidade.

 

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