sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

MAPA DA INTOLERÂNCIA (3)

Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Exige esforço entender a confusa conjuntura financeiro-econômica, político-ideológica e psicossocial que o Brasil vive, a partir do âmago da própria confusão, daí a necessidade de debatermos o que nomeio de Modelo Intolerância, amparado em matriz mista de tipos: a) desconhecimento, insatisfação e desesperança; b) racionalização de reacionarismo e cultura autoritária; e c) produção paradoxal de intenções democrático-progressistas.
A experiência democrática brasileira é superficial e frustra, resumida a 52 anos (1945/1964, 1985/2017), antecedida, seguida e mesclada a ditaduras e golpes oligárquicos. O projeto de ascensão social do povo tem sido aleatório em ritmo e rumo. Envelhece-se, mas há grande base de jovens sem perspectivas e sumiram mitos de realização: seringal acriano, indústria paulista, transamazônicas. Sobra o marketing da modernidade líquida e do empreendedorismo individual, a exigir cultura que não temos. Então, multiplicam-se medos, inseguranças e violências reativas à opacidade.
Capitania hereditária, plantation neofeudal, senzala escravista, concentração de poder e riqueza, mito da vagabundagem inata dos subalternos, volúpia das elites nativas lincadas às elites especulativas internacionais, querem conservar o chicote da Casa-Grande, a religião como ópio, a transição direta do analfabetismo para o vício televisivo e para a babel voluntarista das redes sociais. Recentes e frágeis conquistas humanas, sociais e políticas sofrem golpes mortais. Os beneficiados, sem consciência crítica do jogo jogado, nem se movem para a defesa.
O espírito messiânico dos que lutam pela ampliação de direitos cai na ânsia crescente de conquistas, transformando-as em privilégios de setores das classes médias urbanas, sem contrapartida de deveres e ética do compromisso. Acumulam narcisisticamente, protegem os direitos adquiridos e violentam os direitos dos outros. Um grupo empoderado lincha o outro, atropelando a humanidade deste e o devido processo de defesa. Assim avança a intolerância.
(*) Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado. In: O Povo, Opinião, de 26/12/17. p.10.

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