Por Érico Firmo, colunista de O Povo
Tem gente para quem conhecimento é motivo de arrogância,
e isso torna essas pessoas menores. Bem diferente disso, Cláudio Ferreira Lima
tinha enorme prazer e autêntica felicidade em compartilhar o que sabia. E,
olha, era muita coisa. Foi dos gestores públicos com maior formação teórica e
envolvimento na execução prática das suas ideias. Participou diretamente de um
esforço de planejar o Ceará do futuro. Trabalhou com Virgílio Távora e Tasso
Jereissati, ciclos que traçaram o rumo que o Estado tomou. Comprou brigas em
nome do que achava correto e justo. Perdeu poder para não abrir mão de
princípios.
Muita gente por aí, com muito menos currículo, despeja
prepotência. Ilude-se que aquilo que sabe e a posição que ocupa dão direito de
tratar os outros como inferiores. Cláudio era a antítese disso. Mesmo já
adoentado, nunca o vi sem estar simpático, sorridente, prestativo.
Desde as primeiras vezes em que conversei com ele, ainda
muito jovem repórter, Cláudio foi de generosidade ímpar. Fazia elogios a
reportagens, além dos que mereceria. E, principalmente, apontava aspectos que
não havia abordado, sugeria novos olhares. Coisas às quais não havia atentado.
Delicado, nem julgava serem lacunas, buracos na apuração — embora às vezes
fossem justo isso. Compreendia que sempre haverá caminhos para aprofundar, ir
além. Terá sempre escapado algo, sobretudo para um repórter inexperiente,
embora algo presunçoso. Após uma conversa, ao abrir a caixa de e-mails
encontrava mensagens com conteúdos e mais conteúdos sobre o tema acerca do qual
havia escrito e que ficaria bem melhor com aquelas contribuições.
As contribuições eram diversas: da leitura sobre rubricas
orçamentárias até referências literárias que permitiam compreender a realidade
social, passando por sofisticado olhar da história política. Cláudio era
intelectual, técnico refinado e humanista de rara sensibilidade. Compreendia
que as decisões de governo afetam a vida das pessoas, sobretudo as mais
vulneráveis. Daí o senso de responsabilidade com que se conduzia.
Sem ele, o Ceará fica mais pobre em inteligência,
integridade e generosidade.
Fonte:
O Povo, de 3/7/18 p.16.
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