sexta-feira, 27 de julho de 2018

AOS VIVOS: Todo Chico tem um dono e outros causos


Por jornalista Tarcísio Matos, de O Povo
Todo Chico tem um dono
Zé de Goré, vaqueiro-filósofo. Sempre a nos ensinar verdadeiras maravilhas, com a brejeirice e a simplicidade do iniciado. Em historinha de visagem que surpreendeu papudinho nas cercanias do cemitério, Zé citou seis distintos personagens Chico em dois minutos de contação. Chico de Clotilde (o morto – espírito comunicante); Chico de Zé de Berenice (o vidente bebinho assombrado); Chico de Lopinha (o coveiro); Chico de Chica Gertrudes (testemunha também melada); Chico de Dona Mocinha (vendedora de flores).
Perguntei por que não dizer, dos protagonistas, que são apenas Chico. Goré, do alto da sapiência cósmica, ensina:
- É tanto Chico no mundo, meu amigo, que carece dizer quem lhe é pai ou mãe.
- Traduzindo...
- Todo Chico tem um dono!
Trabalhada à distância
Bebelzinha, três aninhos de angelical pureza. Ouvindo mamãe reclamar-se da porcaria que o marido (o pai querido de Bebelzinha) deixara no banheiro (obrara e não dera descarga), esturra, vocifera, detona ao ver aquilo lá boiar:
- Olha a merda tu fez, Joaquim! E a catinga no mundo, tá pôde?!?
A menina, brincando de desenhar o Ben 10 na sala, responde ingênua:
- Aqui merda não fede, mãe! Vem pra cá pra senhora ver!
Mercado do Bico
Nesses tempos de crise econômica, dormir no ponto à moda jumento em BR é meio grau. Rizomar de Tidioniz (Tio Dionísio), conhecido pela indiferença ao trabalho, quis ganhar ponto com o avô Das Chagas, caba virtuoso no cabo dum formão. Fez-interessado em ocupação qualquer. Pediu ao velho lhe ensinasse o que fazer, a começar por algo leve.
- Queria fazer um bico, vô!
Conhecido pela brabeza no trato com gente fulerage, Das Chagas liquidou:
- Não ‘seje’ por isso! Bote os beiços assim pra frente, como se fosse beijar... Viu? Tá feito o bico!
Maresia na serra?
E a geladeira de dona Vera carcomida de ferrugem com três anos de uso. Diz ela que foi a cara feia do marido, que comprou o eletrodoméstico a contragosto, preferia esfriar a garrafa d’água detrás do pote, na cozinha da casa humilde em Guaramiranga. O marido tentou explicar:
- A maresia na serra tá de arrombar!
- Serresia, Joãozito, serresia! – respondeu ela, cética.
Gênio!
Jair Morais, agora dando uma de adivinho do presente e do futuro. Diz que vê, ouve e escreve sobre o não acontecido ainda. E ainda sonhos, premonições, viagens ao passado. A neta Jairzinha, crente que é vero o dom do vovô. Meio que frescando, pede que Jair diga:
- O que sucedeu de mais importante no exato dia 15/08 de 1.508 às 15h8?
- No Brasil ou na Europa? – redarguiu o Poeta dos Cachorros, olhos cerrados.
- Aqui...
- Tudo o que está acontecendo nesse justo momento, só que noutro bairro.
Fonte: O POVO, de 20/08/2016. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos.

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