quinta-feira, 25 de outubro de 2018

AVANÇO TECNOLÓGICO E MISOGINIA (Preconceito Contra Mulheres)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Em se tratando de preconceito, tenho mais de cinco mil anos de experiência, sou judeu e nordestino.
Observo, com apreensão, a mídia noticiar a preocupação com a violência contra as mulheres. Estar na moda, não poucas vezes, é entrar no time do politicamente correto.
(Politicamentum Correctum significa, literalmente, agir como um político). Em outras palavras, trata-se de uma medida criada por políticos para fazer com que a população não entenda o alcance das suas malandragens, como por exemplo: o Mensalão, Lava-Jato, etc. (Confira no Google).
O termo ‘misoginia’ vem do grego: horror a mulher. O horror à mulher negra, cafuza, branca ou de qualquer tonalidade é mais antigo do que o antissemitismo, melhor dizendo: antijudaísmo. Mas, vamos aos acontecimentos. Desde a semana passada a Mídia e as mulheres e os homens (as pessoas), estão em polvorosa psíquica com as agressões femíneas e noticiários atinentes. Verdade. O que acontece no Brasil, se não der na Globo, não aconteceu, mesmo com o advento das mídias sociais móveis e imóveis. Imaginem vocês, quando o acontecimento ocorre no interior novelesco daquela cadeia midiática.
Na mesma semana passada ocorreu, no bairro da Boa Viagem, Recife, crime de morte de uma jovem e nem parece que foi no mesmo País. Pelo que sei o episódio, apesar de assustador e terrível, não teve direito nem a uma repercussão do nível da dedicada a uma cantada mal abiscoitada de um ator Global.
Diante de tal episódio, o meu local de trabalho psicoterápico (setting), no Recife, foi invadido pelo medo da violência contra as mulheres. Apareceram mulheres jovens, idosas, e avós e avôs dos meus antigos pequenos pacientes, quando eu exercia a Pediatria. Foi uma invasão de grandes proporções. Procurei acalmar todos, mas não creio tê-lo conseguido. A violência contra a mulher é um fato, apesar dos pequenos ou grandes avanços alcançados, segundo dizem alguns e outros concordam, com um gesto de torcer o nariz.
Trabalhando e impressionado com esses temores generalizados, peço vênia para escrever sobre um fato que me veio à memória.
Quando exercia a neonatologia (ramo da pediatria que cuida dos recém-nascidos), creio que a partir da década de sessenta, notei que famílias com mais de três filhos foram escasseando... Falo da classe média urbana do Recife e adjacências. Caso o primeiro rebento fosse do sexo masculino, quando surgia o segundo (não importando se menino ou menina), a solicitação/ordem do marido, era quase sempre: “ligar as trompas da minha esposa”.
Ao contrário, quando nasciam meninas, a prole era grande... tentativas várias? Fracassadas muitas. A culpada era a mulher, quando o que determina o sexo é o espermatozoide. Até chegar o Herdeiro, conheci matrimônios com mais de oito irmãs.
Com o advento da ultrassonografia a coisa mudou de figura, para os médicos. Passou-se a acompanhar o embrião e o feto desde a concepção. O pré-natal modificou-se e os avanços foram e são tantos que é impraticável enumerá-los. Um fato comum, mas pouco mencionado, trazido pela ultrassonografia, é que saber/conhecer o sexo do bebê antes do nascimento facilita a escolha do enxoval, azul ou cor de rosa, a decoração do quarto e até a escalação dos padrinhos e os planos para a festa de batizado.
Do ponto de vista tecnológico, as coisas mudaram. O que permaneceu foi a cachimônia, que precisa ser modificada. Isso leva muito mais tempo do que os avanços tecnológicos. Mudar mentalidade, pensamento, discernimento, pensamento, intelecto, inteligência, percepção, razão, senso, e a mente é que é complicado. Isso acontece quando a tecnologia se antecipa à cultura... E é muito comum.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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