sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ESPAÇO URBANO: avenida virtual ou apenas no papel?

O Povo, de 20/12/11 (p.4), estampou uma matéria sobre ruas da capital, cujo percurso alberga distintas denominações, recorrendo ao subtítulo: “um só caminho com vários nomes diferentes”. São muitos os dissabores provocados por tal prática, que afeta moradores e transeuntes, e cria entraves ao trabalho de taxistas e de empregados dos correios.
Parte desse problema remonta a um antigo plano diretor de Fortaleza, que usou a Av. Dom Manuel, como linha divisória da cidade, tal qual uma bissetriz, fazendo com que as ruas que lhe eram perpendiculares, ali nascessem e tivessem a numeração crescente, de forma centrífuga, umas para o Leste, e outras no sentido Oeste; à medida, que a nossa urbe foi crescendo, outras avenidas brotaram, servindo de marcos a separar, apenas no papel, as ruas que corriam paralelamente à nossa orla, ensejando o oportunismo de se prestar homenagens a mais pessoas, merecidas ou não.
O que foi um equívoco do passado ganha corpo na presente gestão municipal, com a replicação descabida dessa atuação. Parece intrigante mudar a denominação oficial de uma avenida ou um trecho dela, sem a devida consulta aos moradores da vizinhança, tal como procedeu a Prefeitura de Fortaleza, ao descerrar, em novembro do ano pretérito, uma placa alusiva à Av. José Jatahy, em solenidade concretizada mesmo estando distante do término das obras, decorrentes da remoção dos trilhos desativados, em função do traçado do Metrofor. A maioria desses cidadãos, por certo, desconhece os feitos que balizam tamanha honraria.
Há mais de meio século, para os residentes no Otávio Bonfim e em suas cercanias, a via que acolhia o leito ferroviário era conhecida por José Bastos, uma derivada da Av. Tenente Lisboa, que cortava o vizinho bairro Jacarecanga, acompanhando os trilhos, desde a Estação João Felipe.
Quando houve o alargamento e a cobertura asfáltica dessa avenida, a prefeitura, à época, tentou alterar o nome, para render homenagem a outrem, mas foi obrigada a recuar, diante do arrazoado elaborado por historiadores locais, a exemplo do notável Raimundo Girão, que bem demonstraram os notáveis predicados de José Perdigão Bastos, um próspero comerciante e empresário visionário, falecido no início do século XX, fundador da Associação Comercial do Ceará e da Fênix Caixeiral, que muito contribuiu para o desenvolvimento local.
Nada contra o artista José Jatahy, autor do hino do Ceará Sporting Club; afinal, quem canta seus males espanta. O incorreto está na escolha do logradouro e na forma de como se definem as homenagens na Loura Desposada do Sol, colidindo com o propalado discurso da participação da comunidade na gestão da capital.
E isso não se trata de um fato isolado, pois está sendo tramada a alteração do nome de parte da Av. Dedé Brasil, para prestar honras a outro cidadão.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e economista
* Publicado In: O Povo, de 23/12/2011. Opinião. p.7.

Um comentário:

Paulo Gurgel disse...

Marcelo,
Acompanhando o traçado da Avenida José Bastos no Google Mapas descubro que, antes de iniciar-se, ela é antecedida por uma grande curva (inominada?) que se origina da Avenida Tenente Lisboa.
A partir do cruzamento com a Avenida Francisco Sá, é que ela passa realmente a ser chamada de Avenida José Bastos e segue um percurso longo e cheio de voltas até a Lagoa da Parangaba.
Defendo, como você o faz, que ela continue em sua plenitude com o nome de Avenida José Bastos, inclusive por representar uma merecida homenagem a quem tanto fez por nossa cidade.
Fragmentar a designação oficial de uma avenida só serve para desorientar mais ainda a população de Fortaleza.
Um abraço.

 

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