Affonso
Taboza (*)
Em 21 de março de 2010 publiquei, na página de
Opinião deste jornal, artigo intitulado Nosso Presidente Cubano. Nele encaixei
e critiquei fala do então presidente Lula, numa de suas arengas semanais em
cadeia nacional de rádio. Dizia Lula, num arroubo de entusiasmo com a ilha e o
regime de Fidel Castro: “Nós temos um acordo importante de investimento pra
recuperação do porto de Mariel. É um investimento prioritário em Cuba, e além
do que nós temos interesse de fazer novos investimentos em Cuba, e contribuir
para recuperar a rede hoteleira de Cuba, as rodovias de Cuba, ou seja, nós
estamos discutindo o Ministro da Indústria e Comércio já está em Havana, e nós
pretendemos consolidar esses acordos com Cuba porque nós queremos ser
solidários a Cuba e ajudar Cuba a se desenvolver. A Petrobras vai fazer uma
fábrica de óleo combustível em Havana (...) e tudo isso nós pretendemos que
aconteça este ano”.
Fantástico, não? O Brasil tomando a peito a tarefa
de desenvolver um país que, por decisão do seu ditador, optou pelo
subdesenvolvimento. Não pôde nosso fantasioso presidente quase reconstruir a
decadente ilha, como era seu propósito, mas iniciou o item mais ambicioso do
canhestro sonho, e passou a missão à sucessora: a construção do porto de
Mariel, ao custo de mais de U$ 1 bilhão, conforme divulga a imprensa; e tudo às
escuras, contrato de financiamento sigiloso por trinta anos.
Alguém acha que Cuba, país quebrado, algum dia
pagará essa dívida? Aliás, perdoar dívidas de outros países foi uma constante
nos dois mandatos de Lula da Silva. Cortesia personalista, feita à revelia do
dono do dinheiro, nosso povo sofrido... Quando contratou tal financiamento,
Lula sabia – ele não é criança – que jamais veremos esse dinheiro de volta. O
porto de Mariel foi uma doação sua a Fidel Castro. Ele deve isso ao povo
brasileiro.
Na inauguração do moderno complexo logístico, lá
estava a nossa presidente, discursando com entusiasmo e brindando ao grande
feito, de costas para os vetustos portos brasileiros com suas quase insuperáveis
deficiências. Um escárnio.
Na última campanha eleitoral, questionada sobre tal
financiamento, a presidente saiu pela tangente alegando que isso criou trabalho
para empresas e trabalhadores brasileiros. Ocorre que, tais recursos empregados
nos portos nacionais, teriam o mesmo efeito e o produto ficaria no nosso país.
O reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos é visto
por uns como prova do acerto do nosso apoio financeiro àquele país. Acham que
disso vamos tirar proveito. E eu pergunto: será? E quando?
Cumpre lembrar que o embargo à ilha continua, e o
senado americano não vai dar isso barato. Exigirá preferências comerciais. Cuba
terá, antes de mais nada, de indenizar as propriedades americanas confiscadas
por Fidel Castro quando assumiu o poder. Bilhões de dólares. De onde sairá esse
dinheiro? Se Lula da Silva estiver no governo nessa ocasião, certamente o
Brasil, mesmo quebrado, se candidatará a cobrir essa dívida...
(*) Coronel reformado do Exército e engenheiro civil.
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