sexta-feira, 11 de setembro de 2015

FESTANÇA CUBANA


Affonso Taboza (*)
Em 21 de março de 2010 publiquei, na página de Opinião deste jornal, artigo intitulado Nosso Presidente Cubano. Nele encaixei e critiquei fala do então presidente Lula, numa de suas arengas semanais em cadeia nacional de rádio. Dizia Lula, num arroubo de entusiasmo com a ilha e o regime de Fidel Castro: “Nós temos um acordo importante de investimento pra recuperação do porto de Mariel. É um investimento prioritário em Cuba, e além do que nós temos interesse de fazer novos investimentos em Cuba, e contribuir para recuperar a rede hoteleira de Cuba, as rodovias de Cuba, ou seja, nós estamos discutindo o Ministro da Indústria e Comércio já está em Havana, e nós pretendemos consolidar esses acordos com Cuba porque nós queremos ser solidários a Cuba e ajudar Cuba a se desenvolver. A Petrobras vai fazer uma fábrica de óleo combustível em Havana (...) e tudo isso nós pretendemos que aconteça este ano”.
Fantástico, não? O Brasil tomando a peito a tarefa de desenvolver um país que, por decisão do seu ditador, optou pelo subdesenvolvimento. Não pôde nosso fantasioso presidente quase reconstruir a decadente ilha, como era seu propósito, mas iniciou o item mais ambicioso do canhestro sonho, e passou a missão à sucessora: a construção do porto de Mariel, ao custo de mais de U$ 1 bilhão, conforme divulga a imprensa; e tudo às escuras, contrato de financiamento sigiloso por trinta anos.
Alguém acha que Cuba, país quebrado, algum dia pagará essa dívida? Aliás, perdoar dívidas de outros países foi uma constante nos dois mandatos de Lula da Silva. Cortesia personalista, feita à revelia do dono do dinheiro, nosso povo sofrido... Quando contratou tal financiamento, Lula sabia – ele não é criança – que jamais veremos esse dinheiro de volta. O porto de Mariel foi uma doação sua a Fidel Castro. Ele deve isso ao povo brasileiro.
Na inauguração do moderno complexo logístico, lá estava a nossa presidente, discursando com entusiasmo e brindando ao grande feito, de costas para os vetustos portos brasileiros com suas quase insuperáveis deficiências. Um escárnio.
Na última campanha eleitoral, questionada sobre tal financiamento, a presidente saiu pela tangente alegando que isso criou trabalho para empresas e trabalhadores brasileiros. Ocorre que, tais recursos empregados nos portos nacionais, teriam o mesmo efeito e o produto ficaria no nosso país. O reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos é visto por uns como prova do acerto do nosso apoio financeiro àquele país. Acham que disso vamos tirar proveito. E eu pergunto: será? E quando?
Cumpre lembrar que o embargo à ilha continua, e o senado americano não vai dar isso barato. Exigirá preferências comerciais. Cuba terá, antes de mais nada, de indenizar as propriedades americanas confiscadas por Fidel Castro quando assumiu o poder. Bilhões de dólares. De onde sairá esse dinheiro? Se Lula da Silva estiver no governo nessa ocasião, certamente o Brasil, mesmo quebrado, se candidatará a cobrir essa dívida...
(*) Coronel reformado do Exército e engenheiro civil.

Fonte: O Povo, Opinião, de 6/01/15. p. 9.

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