A grande questão é que ficamos elogiando o que o
Papa diz, analisando a sua receptividade em nível mundial; entretanto, as
nossas Paróquias continuam as mesmas
Por Almir Magalhães (*)
A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, como fruto de sua 52ª Assembleia Geral (30/4 a
9/5/14), ofereceu aos fiéis católicos o Doc. 100 – Comunidade de Comunidades:
uma nova paróquia – a Conversão pastoral da Paróquia. O grande objetivo do
texto é ajudar a compreender o sentido pastoral da Paróquia, ou seja, que ela
seja uma comunidade missionária, acolhedora, samaritana, que gera discípulos,
orante e eucarística.
Quando o Papa
Francisco esteve no Brasil em 2013 e se encontrou com o episcopado brasileiro
(27/7/13), lembrou que a conversão pastoral “nada mais é que o exercício da
maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta,
conduz pela mão... Por isso, faz falta uma Igreja capaz de redescobrir as
entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, poucas possibilidades
temos hoje de inserir-nos em um mundo de “feridos”, que tem necessidade de
compreensão, de perdão, de amor” (Palavras do Papa Francisco no Brasil,
Paulinas, 2013, p.104). (Este mesmo texto foi retomado no Doc. 100, n.54).
Gostei muito desta
referência “Exercício da maternidade da Igreja, porque além de ser explicitado
no próprio texto, chama a atenção para uma postura, atitude, jeito pastoral de
ser que deve ser construído. A grande questão é que ficamos elogiando o que o
Papa diz, analisando a sua receptividade em nível mundial; entretanto, as
nossas Paróquias continuam as mesmas: paróquias de manutenção, nas quais
predominam os aspectos administrativos, sacramentalização, sem outras formas de
evangelização, como afirma o documento aqui referenciado em seu nº 48.
A Conversão
pastoral é uma urgência e supõe um processo de transformação permanente e
integral, o que implica o abandono de um caminho e escolha de outro. (cf. nº
51).
Acredito que aqui
está o ponto fulcral – abandonar um caminho e escolher outro. É fácil de se
compreender que é parte estruturante do ser humano o apego, também o apego
pastoral de continuar com caminhos que foram suficientes para determinadas
épocas mas que não se adéquam ao momento histórico que estamos vivendo, com o
paradigma de mudanças que ocorreram e continuam ocorrendo, como os novos cenários
da fé e da religião (cf. Cap.I do doc. 100 – Sinais dos Tempos).
Abandonar um
caminho na perspectiva da conversão pastoral implica uma Kenósis e, no caso,
entra de cheio a dimensão espiritual e remeto a esta profunda orientação
contida em Fil 2, 1-11. É ser capaz de mudar de rumo, despojando-se de algo que
nos é valioso mas que em função da fidelidade à missão exige a construção de um
novo rumo pastoral que possa explicitar melhor o anúncio irrenunciável de
Cristo e sua proposta, mas com roupagens compreensíveis ao homem de hoje.
O Documento de
Aparecida e o documento 100 chamam isso de Revisão das Estruturas Absoleto (DAp
365 e 45-50 doc. 100).
A Conversão
Pastoral significa também Conversão para a Missão, para o compromisso
comunitário para se dar aos outros.
Significa valorizar
o espírito comunitário com sua base na vida trinitária e do batismo recebido.
Para isto, a visão de comunidade de comunidades é fundamental na medida em que
setoriza para ser uma presença que favoreça uma aproximação indispensável.
Agora, é preciso identificar quem vai pastorear, animar e coordenar estas
pequenas comunidades, caso contrário, será só uma descentralização geográfica,
sem vida, sem alma.
Finalmente, uma
atenção à Catequese que deve ser de Iniciação à Vida Cristã com inspiração
catecumenal, totalmente diferente do que existe hoje. Ela ainda é muito
desconhecida em nossas comunidades (Doc. 100 268). Motivar para uma catequese
que gere discípulos.
A tarefa é
exigente, complexa e desafiante. Os queridos amigos párocos e demais agentes de
pastoral envolvidos devem ousar.
(*) Almir Magalhães padre da
Arquidiocese de Fortaleza, Diretor e Professor da Faculdade Católica de
Fortaleza.
Fonte: O
Povo, de 17/5/2015. Espiritualidade. p.15.
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