Celina Côrte
Pinheiro (*)
Há alguns dias, a AMC impôs o controle da
velocidade máxima dos veículos automotores em uma das vias urbanas em
Fortaleza. Vários cidadãos se colocaram contra a medida, alegando que 40 km/h
causariam transtorno no trânsito, comprometendo a mobilidade. Este raciocínio é
peculiar aos que ajuízam o trânsito com base apenas nos transportes
motorizados. Os pedestres são menosprezados ou mesmo esquecidos. Há, aqui, a
cultura do desrespeito habitual a quem anda a pé.
O veículo vem a dois quarteirões de distância, com
tempo hábil para nossa travessia com segurança. No entanto, a sensação que se
tem é que o motorista não se preocupa em, pelo menos, retirar o pé do
acelerador. Ao contrário, faz da buzina a sua arma e ainda acelera o veículo
quando não desvia o mesmo na direção do desprotegido pedestre. Pura falta de
sentimento de urbanidade!
A Organização Mundial da Saúde (OMS) observa que
90% das mortes no trânsito ocorrem em países com baixos rendimentos e menor
frota de veículos. Parece paradoxal, mas é a realidade, sobretudo porque a
educação nesses países, entre os quais se inclui o Brasil, também é mais
precária. A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou a Década de Ação pelo
Segurança de Trânsito, de 2011 a 2020, tomando medidas para redução do número
de vítimas.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 12 mil
pedestres/ano são vítimas fatais nos acidentes de trânsito brasileiro. Já está
comprovado que a gravidade do atropelamento, com óbito, aumenta com a
velocidade do veículo. Um pedestre atingido por veículo a 40 km/h tem 30% de
chance de ir a óbito. Caso o veículo esteja a 60 km/h, o percentual já se eleva
a 85%. Além de 80 km/h, a possibilidade de óbito é de 100%. Salvar-se nestas
circunstâncias será absolutamente fortuito.
A analogia entre velocidade dos veículos e
gravidade do atropelamento levou muitos países a imporem redução da velocidade
autorizada nas zonas urbanas para 30km/h a 50 km/h, com a intenção de moderar o
tráfego e reduzir o número de óbitos de pedestres. Precisamos nos curvar às
evidências para vivermos melhor. O sentimento de pertença à comunidade passa
também pela segurança e conforto que o pedestre sente ao circular nas calçadas
e nas ruas. Esta cidade ainda tem muito a avançar neste sentido!
(*) Médica ortopedista e traumatologista.
Presidentes da Sobrames/CE.
Fonte: Jornal O Povo, de 25/09/15. Opinião,
p.8.
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