Por Frei
Gilberto Siqueira Alves (*)
"Para São Francisco,
não teria sentido cuidar dos irmãos e irmãs na fé se não fosse zeloso com a
natureza"
Ecologia quer dizer o estudo ou cuidado da casa,
nosso habitat. Os santos são profetas que romperam a inércia através da
metanoia, ou seja, mudança de mentalidade traduzida em atitudes evangélicas,
espirituais, afetivas e sociais. O chamado de Deus em seus corações foi maior
do que as utopias pessoais. São Francisco pensava em ser cavaleiro, era a maior
honraria de seu tempo. Ele foi lapidado à luz das transformações da cidade de
Assis, na Itália, do século XIII.
Personificou com brava virtude as palavras do
crucifixo de São Damião - “Francisco, não vês que minha casa está ameaçando
ruir? Corre e trata de repará-la” (LARRAÑAGA, Inácio. O Irmão de Assis.
Paulinas, 1989, p. 59-60). São Francisco interpretou literalmente.
Saiu restaurando prédios de igrejas em declínio.
Deus queria que ele reconstruísse a Igreja a partir dos religiosos, pois havia
um descompasso gritante que ia de encontro ao Evangelho que é norma normata do
Divino Salvador! Não é à toa que é admirado também pelos não crentes, pois a
linguagem do bem é universal. Uníssonos peçamos ao Pai Francisco que nos ajude
a ressignificar nossa insensibilidade à Palavra de Deus escrita na criação!
Para São Francisco, não teria sentido cuidar dos
irmãos e irmãs na fé se não fosse zeloso com a natureza; “a conversão de
Francisco é bem mais do que uma simples mudança espiritual, é uma escolha de
vida social” (MANSELLI, Raoul. São Francisco. Vozes, 1980, p. 68).
Francisco agradeceu ao Deus Criador a partir da
composição do Cântico das Criaturas, em singular inspiração poética: “[...]
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é muito útil e humilde e preciosa
e casta [...]” (Fontes Franciscanas e Clariana. Vozes, 2004, p. 104-105). O
referido Cântico desperta-nos o cuidado com o planeta Terra, casa de
subsistência da nossa e das futuras gerações.
A exploração não tem limites: poluição dos lençóis
freáticos, ganância para com as riquezas minerais e o desrespeito à dignidade e
sacralidade da vida humana. Em muitos países, cresce o número das vítimas de
catástrofes ambientais. Seria o planeta Terra pedindo um basta na maneira com a
qual o ser humano o explora? O cuidado responsável com a mãe terra, presente de
Deus, é questão de sobrevivência. Agindo de maneira inconsequente o que
deixaremos para as futuras gerações?
Em nossa contemporaneidade, a Igreja nos prestigiou
com a eleição do papa Francisco, cujo nome não é aleatório. Sinaliza um novo
projeto de pontificado a partir de novos ares com repercussões na práxis
pastoral e de rosto samaritano. Em boa hora chegou a Laudato Si sobre o cuidado
da casa comum. “As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e
ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e
lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de
tal maneira as possibilidades do planeta [...]”.
Há esperança, “o movimento ecológico mundial já
percorreu um longo caminho, enriquecido pelo esforço de muitas organizações da
sociedade civil” (FRANCISCO. Laudato Si. Paulus, 2015, n. 161 e 166). Os
ambientalistas agradeceram a voz do papa Francisco que chamou atenção da
humanidade para ouvir os apelos do planeta Terra!
Passados oito séculos da existência de São
Francisco, a causa que ele defendeu torna-se questão de sobrevivência para nós
e futuras gerações.
(*) Frade capuchinho. Vigário na Paróquia São Benedito, Arquidiocese de
Teresina (PI).
Fonte: O Povo, de 4/10/2015. Espiritualidade. p.31.
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