quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SURREAL ESTE BRASIL


Por Affonso Taboza (*)
Vem o Supremo e decide que doação de empresa para eleição é inconstitucional!
Inconsistente como areia movediça, instável como biruta em tempestade. O que hoje é, amanhã não será... aliás, nem hoje é! Valeu no passado, mas não vale hoje e no passado valeu errado! Até o passado é imprevisível, diz o chiste popular.
Executivos e legisladores dormem em seus palácios e acordam na rua... mandatos cassados, por ilegítimos! Nem quem já morreu é respeitado! Da presidente da República ao vereador da Irauçuba! Todos! Suas eleições são nulas, seus atos também. Tudo, desde a vigência da Constituição de 1988. Ah! mas por ordem de quem? Ora, de quem! Ordem de quem manda neste País. Do STF!
Não bastasse a crise política, que se alimenta da própria saliva e devora as entranhas do País, não bastasse a desordem econômica e seus efeitos nefastos, não bastassem a ladroeira e a falta de compostura reinantes, vem o Supremo e decide que doação de empresa para eleição é inconstitucional!
E agora? Um efeito dominó, desde 1988? Se é inconstitucional, é nulo. Mandatos nulos, todos! A única vantagem real é a queda imediata da dona Dilma. Sem “golpe”! Mandato ilegítimo, adquirido em desrespeito às sacrossantas normas constitucionais.
Ora, me compre um bode! – diz o sertanejo, quando lhe trazem um fato insólito.
Vinte e sete anos laborando em erro, define o guardião da Lei Maior. Mas o guardião não viu isso? Onze cabeças coroadas, sábios da lei, só agora descobriram? Estava tão oculta esta verdade no miolo da lei ou nas entrelinhas? Sabe-se que esta constituição – a famosa cidadã, do nada modesto Ulysses Guimarães – saiu tão inconsistente que seus autores, nas Disposições Transitórias, previram sua possível alteração após cinco anos por maioria simples do Congresso! E que nesses 27 anos já sofreu mudanças que não se consegue contar. Isso porque os constituintes jogaram em seu bojo mil e um temas próprios de lei ordinária. Virou colcha de retalhos. Imensa, comparada na época aos catálogos telefônicos do Rio e de São Paulo. É a Constituição dos muitos direitos e pouquíssimos deveres! Constitucionalizaram o populismo! Tanto que o presidente da Republica de então, José Sarney, num raro momento de sinceridade, declarou ao vê-la promulgada: “Com esta Constituição, este país será ingovernável!”
Vamos ver como acaba isso. O País está uma barafunda. Stefan Zweig foi feliz quando o qualificou de país do futuro. Horizonte inatingível. Quanto mais nada, mais ele se afasta.
Que nossos tetranetos vivam o país do presente. Milagres acontecem...
(*) Engenheiro civil e militar.
Fonte: Publicado In: O Povo. Fortaleza, 6/10/2015. Opinião. p.7.

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