segunda-feira, 12 de outubro de 2015

INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ


Por Almir Magalhães (*)
Quando se fala em Iniciação à Vida Cristã (IVC) de inspiração catecumenal, dois aspectos nos chamam a atenção: a primeira diz respeito à forma atual da transmissão da fé, que normalmente é denominamos de Catequese, considerada pelo documento de Aparecida como “pobre e fragmentada”, e acima de tudo com características e objetivos de preparação para receber os sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia; a segunda, diz respeito à IVC, com inspiração catecumenal, cujo período de ouro se desenvolveu a partir do fim do século II e perdurou até a primeira metade do século IV. A abordagem será distribuída em três artigos.
Ressalte-se que ao longo de toda a sua história sempre realizou de uma maneira ou de outra a iniciação cristã, entretanto, a partir do momento em que aconteceu a “conversão” do imperador Constantino ao cristianismo a experiência do catecumenato patrístico foi diminuindo e já no final do século VI basicamente desapareceu; o batismo de crianças, prática raríssima até então, passou a ser cada vez mais frequente e pouco a pouco os sacramentos da iniciação cristã se desvincularam um do outro, já que batismo, crisma e eucaristia eram conferidas numa mesma celebração.
Neste período houve a expansão maciça do cristianismo com a liberdade religiosa dada pelo Acordo de Milão em 313 a Igreja, antes perseguida, a partir daí é tolerada e mais tarde (em 380) com Teodósio o cristianismo passa a ser a religião oficial do império, com todos os privilégios que são registrados pela história.
Este período é chamado de cristandade que durou aproximadamente 16 séculos; o fim da “era constantiniana = cristandade se deu oficialmente com o Concílio Vaticano II, mas ainda hoje temos muitos resquícios e elementos desta época. Este período pode ser louvado pela expansão do cristianismo, mas trouxe marcas que até hoje sofremos as consequências, como uma catequese com quase ou nenhuma incidência no existencial e seguimento de Cristo, pois ser cristão não implicava mais uma mudança radical de vida, o número de catecúmenos aumentou, a seriedade da preparação diminuiu; um dos grandes prejuízos litúrgicos foi o esvaziamento de seu conteúdo, elementos centrais foram esquecidos, o Mistério Pascal foi cedendo lugar a devoções. O terço e o livrinho do santo predileto eram mais importantes do que a Bíblia e os sacramentos. O que acontecia na Igreja era muito bonito de se ver, porém, com pouca relevância na prática dos cristãos. Parece que ainda continuamos assim.
O Diretório Nacional de Catequese (Doc. CNBB 84, 2006), reconhecendo as dificuldades que temos hoje na forma como a catequese é apresentada, elenca alguns desafios para a catequese atual (n. 14).
Formar catequistas como comunicadores de experiências de fé, com uma linguagem inculturada, relevante para as pessoas do mundo de hoje, na realidade pós-moderna, urbana e plural.
Fazer da Bíblia o livro principal da catequese. Fazer com que o princípio interação fé e vida seja assumido na atividade catequética de modo que o conteúdo responda aos desafios do mundo atual.
Assumir o processo catecumenal como modelo de toda a catequese e, consequentemente, intensificar o uso do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (Rica); (o destaque é meu).
Passar de uma catequese só orientada para os sacramentos, para uma catequese que introduza no mistério de Cristo e na vida eclesial; Fazer com que a catequese se realize num contexto comunitário; Incentivar a instituição do ministério da catequese.
Tornar efetiva a prioridade da catequese com adultos e, assumir na catequese a vida e os clamores dos marginalizados e excluídos.
Temos aí bons elementos para nossa reflexão.
(*) Almir Magalhães padre da Arquidiocese de Fortaleza, diretor e professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 7/6/2015. Espiritualidade. p.30.

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