terça-feira, 20 de junho de 2023

OS NOVOS GENERALISTAS

Por Henrique Soárez (*)

"O especialista sabe tudo sobre nada e o generalista sabe nada sobre tudo." Este era um bom aforismo, até a chegada dos modelos de linguagem de larga escala. O GPT-4 é o verdadeiro generalista. Nenhum ser humano conhece sobre tantos assuntos ao mesmo tempo.

Tentando aprender a programar em Python, pedi ao GPT-4 e ao Google Bard para resolverem um problema clássico do estudo dos algoritmos: como colocar 10 cavalos em um tabuleiro de xadrez sem que nenhum deles esteja em condições de atacar um outro. Ao comparar as respostas dadas pelos dois modelos pude entender um pouco sobre a sintaxe da nova linguagem. Pude também perceber como a qualidade das respostas era errática: não só entre os dois modelos, mas também entre duas tentativas do mesmo modelo.

Não foi difícil ver que a primeira solução oferecida pelo Bard sequer entendia o significado de um tabuleiro de xadrez. Mais um aprendizado: limpei o chat, perguntei novamente, e a resposta veio bem melhor.

Para ter acesso ao Google Bard foi necessário contratar uma VPN. A minha surpresa ao perceber que o Brasil não estaria entre os 180 primeiros países da lista de lançamento durou até quando descobri que também não havia nenhum país da União Europeia na relação. Estávamos em boa companhia, afinal de contas. O Bard ainda não fala português, mas se mantém continuamente atualizado sobre as novidades da Internet. O GPT, por outro lado, torna-se cada dia mais esperto sobre todo o conhecimento disponível publicamente até setembro/2021.

Uma das novidades do recente lançamento do modelo da Google é a sua maior eficiência energética quando comparado ao GPT. Mas isso ainda não é motivo de festa: treinar um desses modelos consome a energia equivalente à produção mensal de uma usina nuclear de médio porte e custa algumas dezenas de milhões de dólares. Um humano, ainda que mais lentamente, chega a resultados comparáveis com uma fração deste investimento (as estatísticas americanas informam que criar um filho na classe média deles custa US$250.000). E nós humanos dependemos de pouco mais que um par de sanduíches por dia para seguir aprendendo.

(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/05/23. Opinião, p.20.

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