terça-feira, 6 de junho de 2023

EM PROL DA BRASILIDADE

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Articulistas costumam receber reclamações dos serviços de instituições públicas e privadas. Tais mensagens provam a validade do pensamento oriental que nos ensina: "A descoberta de um defeito é um tesouro." Realmente, ao descobrir um defeito chamado febre, você vai ao médico e tende a curar-se. Inúmeras críticas são ligadas a hotéis e transportes terrestre e aéreo, este, inclusive com repetidas atitudes ditatoriais e recente conduta considerada, ao que tudo indica, prática de racismo. Viagens combinam com trabalho, lazer e/ou prazer, e não com terror.

Um reclamante foi ao exterior e, antes de embarcar, por ser bem tratado pelos funcionários brasileiros de raios X, sugeriu que eles ensinassem os estrangeiros a trabalhar com polidez. Na volta, foi um dos indicados para exame de suas compras e contava com a nossa usual e exclusiva brasilidade. Havia adquirido só miudezas e poucos aparelhos eletrônicos a fim de presentear seus familiares. Tendo em vista que o valor total dos mimos excedia o máximo permitido, reconheceu o erro e se dispôs a pagar a multa.

Apesar de informar ter provas de que vinha de um encontro onde representou o Brasil e de que era um cidadão de bom conceito, foi vítima de inúmeras grosserias e tratado como um facínora, num ato destoante de um órgão federal de alto nível, com eficiência e credibilidade reconhecidas, e composto por servidores exigentes, honestos, mas não grosseiros.

Em sua seguinte ida a outro país, comprou apenas uma lembrança. Ao chegar ao mesmo setor do incidente anterior, rejeitou o corredor com "nada a declarar" e escolheu a opção "algo a declarar". Lá narrou o insultuoso e injusto acontecido na primeira viagem. Após reflexão, o funcionário indagou o que ele tinha a declarar e, em seguida, recebeu uma linda caixa fechada. Ao abri-la, lembrou-se do brilhante Quintino Cunha que, certa vez, ao fazer anos, ganhou um par de chifres como presente de um inimigo. Quintino aguardou o aniversário do desafeto e concedeu-lhe um buquê de flores, acompanhado de um cartão onde se lia: "Cada um dá o que tem."

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/5/23. Opinião, p.20.


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