terça-feira, 8 de junho de 2010

FREI HUMBERTO WALLSCHLAG: um evangelizador social


Hubert Engelbert Wallschlag nasceu em Struecklingen, Diocese de Muenster, na Alemanha, no seio de uma família profundamente católica, em 24/10/1944, à época em que o seu país experimentava as agruras do final da II Guerra Mundial, tendo feito ali, muito cedo, sua opção religiosa aos 21 anos de idade. Frei Humberto entrou na Ordem dos Frades Menores no dia 9 de maio de 1965, fez a Profissão Solene, em Salvador, no dia 2 de fevereiro de 1972 e na data de 1º de maio de 1973, foi ordenado sacerdote na Igreja Conventual de São Francisco na dita cidade.
Seus estudos maiores ocorreram aqui no Brasil, tendo sido concluídos em Salvador, onde recebeu as ordens do diaconato e do presbiterato. Após essas credenciais, lançou-se, com afinco e desprendimento, nos trabalhos da vinha do Mestre Salvador. Como padre, trabalhou no Brasil (Ipojuca, Canindé e Fortaleza) e na Alemanha, por curto período.
Recém-admitido na ordem religiosa franciscana, Frei Humberto, ofm, quis trabalhar no Brasil, enfrentando dificuldade inicial para realizar esse intento, isso porque seus superiores da ordem franciscana tinham ciência da sua saúde fragilizada por um comprometimento renal, e temiam pelo agravamento de sua doença. Não obstante, aqui chegou ele, em 1966, vivendo em terras brasileiras durante 38 anos, a maior parte deles no Ceará, onde exerceu, por mais de onze anos, a função de pároco da igreja do Otávio Bonfim.
A saúde combalida, apesar do seu avantajado porte físico, levou-o a submeter-se a dois transplantes de rim, o que não o deixou subjugado, porquanto movido pela ânsia de sempre servir ao próximo, detendo um forte apego à vida, como se deduz da sua costumeira iniciativa, ao incitar os fiéis com os dizeres: Viva a Vida!
Alinhou-se Frei Humberto aos defensores da Teologia da Libertação, fazendo da opção preferencial pelos pobres o foco central de sua atuação pastoral, condição essa demonstrada pelo empenho em lidar com as pessoas mais desvalidas e os grupos de excluídos da sociedade. Homem e cidadão de arraigada concepção ideológica, em favor dos marginalizados sociais, devotava especial atenção aos camponeses, especialmente àqueles despojados de terra, engajando-se entre os mais ardorosos apologistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), cujo símbolo gostava de ostentar sobre a cabeça, combinando as dimensões política e religiosa de sua ação pastoral.
Foi com enorme pesar que as comunidades paroquianas da Igreja Nossa Senhora das Dores, em Fortaleza, e da Igreja de S. Francisco de Canindé, da qual também foi pároco, por largos anos, no Ceará, tomaram conhecimento da morte de Hubert Engelbert Wallschlag (Frei Humberto, ofm).
Ao ensejo da sua morte, ocorrida em Fortaleza, em 05.06.2005, dia dedicado a S. Bonifácio, viram-se na orfandade as diversas pastorais por ele fomentadas, além das dezenas de crianças carentes da Creche Nossa Senhora Medianeira, por ele muito amadas e pelas quais tanto lutou.
Calara-se, enfim, uma voz, tantas vezes levantada em defesa dos oprimidos, das crianças mirradas que perambulavam pela Rua Larga e que eram acolhidas, com amor e carinho, na creche mantida pela paróquia, no Bairro do Otávio Bonfim.
Não quis a Medicina que o Frei Humberto sobrevivesse a um câncer de pele agressivo, que se disseminou, e foi responsável pela poda de sua vida, quando ainda era muito grande a messe a ceifar. Vale ressaltar que no enfrentamento das dificuldades, causadas por sua doença, Frei Humberto revelou um estoicismo próprio dos mártires, aceitando o sofrimento, sem contestação, como quem sabe estar cumprindo um desígnio do mesmo Deus que o mandara levar Sua palavra às ruas, às travessas e aos becos tortuosos do Morro do Ouro e adjacências, onde era comum encontrar alguém disposto a ouvi-lo e a cantar, com ele, hinos de louvor à Maria e ao seu filho bem-amado.
Com o seu passamento, Frei Humberto virou uma saudade, ao mesmo tempo em que o seu espírito de luz prosseguiu brilhando no bairro, na cidade, e em todas as vielas por onde ele andou, e deixou as pegadas do seu fazer, profundamente cristão.
Significativas honrarias foram rendidas, por ocasião das missas de corpo presente e de sétimo dia, celebradas em Fortaleza e em Canindé, na intenção do eterno repouso da sua boníssima alma, sendo de se ressaltar a grandiosidade do cortejo que o acompanhou à última morada, em Canindé. O convento de Nossa Senhora das Dores também criou um nicho, nos moldes de um memorial, para preservar alguns dos seus apetrechos, usados no intenso trabalho pastoral, reveladores de sua consciência cristã e cidadã.
Em homenagem póstuma prestada a Frei Humberto, a Prefeitura de Fortaleza reconheceu os méritos de sua ação, em prol dos desvalidos sociais, dando seu nome a uma Unidade de Saúde localizada em área central vizinha ao Bairro do Otávio Bonfim.
Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
* Publicado In: Força viva, 15 (156): 6, 2010. (Informativo da Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Fortaleza-Ceará).

3 comentários:

Gabriele Guedes disse...

Olá, boa tarde...
O Blog Boas Sementes tem a imensa honra em convidá-lo a ser escritor conosco! É semanalmente...

segue o link do Blog...
http://gabiguedesbbz.blogspot.com/

Contato:
gabrieleguedesbbz@gmail.com

Obrigada!
Gabriele.

Marcelo Gurgel disse...

Cara Gabriele Guedes,

Obrigado por visitar o meu blog. Retribuí a sua gentileza, acessando o blog das boas sementes indicado por você.
Quando quiser reproduzir algum dos textos de minha autoria, naturalmente, respeitando os créditos autorais, basta notificar-me do seu interesse via meu blog.
Atenciosamente,
Marcelo Gurgel

Klaus disse...

"Recém-admitido na ordem religiosa franciscana, Frei Humberto, ofm, quis trabalhar no Brasil, enfrentando dificuldade inicial para realizar esse intento, isso porque seus superiores da ordem franciscana tinham ciência da sua saúde fragilizada por um comprometimento renal, e temiam pelo agravamento de sua doença".

Em primeiro lugar: parabens por seu blog, e vejo com muito respeito o que o Sr. escreveu em relação ao Frei Humberto.

Mas não foi bem assim. Não havia problemas de saude, quando entrava na ordem dos Franciscanos, em Bardel / Alemanha, no ano de 1965.

Os problemas do Frei Humberto inicialmente, nada tinham que ver com sua saude, que, nos primeiros anos, era muito boa. Os problemas, possivelmente, tinham sua origem numa grave crise de identidade teologica que ele sofria, durante o processo da aproximaçao dele com Dom Helder Camara, em 1967, que era "persona non grata" entre os franciscanos alemaes em Olinda. O chamavam de bispo vermelho, marxista, e as portas do convento estavam fechadas para Dom Helder, a pesar de que os jovens franciscanos tinham muita vontade de aprender cambios de paradigma.

Frei Humberto fazia questao em conhecer Dom Helder, e Dom José Maria Pires, em João Pessoa. Queria estudar no ITER - "Instituto de Teologia do Recife", queria vivenciar a Teologia dos Oprimidos. Queria deixar o seguro convento em Olinda, uma verdadeira fortaleza, onde os frades tinham de tudo. Desejava viver numa pequena comunidade rural em Salgado de Sao Felix, na Paraiba, onde se constituia uma comunidade de base, como havia sido o conselho de Dom Helder Camara e de Dom José Maria Pires.

O orientador principal desta comunidade de base foi o Padre José Comblin, junto com o Padre Humberto Plummen, os dois eram grandes amigos do Frei Humberto.

Os Franciscanos da Provincia de Santo Antonio em Recife e em Olinda, não gostaram da nova orientaçao teologica adquirida por Frei Humberto e por alguns colegas dele, e por pouco, ele não abandonava a Ordem Franciscana.

Somente anos depois, a Ordem se renovava, e começaram graves problemas de saude: ele fez transplante de um rim, mas mesmo fragil, nunca se separava da teologia da libertação. Os pobres nas comunidades de Canindé o consideram Santo.

Mas a Igreja oficial ha preferido, abafar os Freis Humbertos, igualmente Dom Helder Camara, Padre Comblin, y tantos outros. O Vaticano fechava o Instituto de Teologia do Recife, e se queimaram muitos archivos do CEDOC, e se marignalizavam sacerdotes do tipo Frei Humberto Wallschlag.

Não importa. Ele era e continua ser um Santo, e provavelmente, o agravamento da sua saude, tinha muito a ver com a hostilidade que nos anos 60 e 70, sofria por parte de alguns dos seus superiores.

 

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