sábado, 31 de março de 2012

O BRASIL ANEDÓTICO XXXIX

TUDO PRETO!
Alberto faria - Conferência no Museu Histórico
Era Luiz Gama, o grande preto, antigo escravo, advogado em São Paulo, quando, na defesa de uma causa que o entusiasmava, notou, da tribuna, que se faziam comentários sobre a sua cor. De um golpe de vista, o assombroso tribuno percebeu a situação e interrompendo um período da oração, começou outro:
- Neste processo, vejo tudo escuro... Negro é o crime... Negro é o réu... Negro o acusador... Negro eu... advogado da defesa. E V. Excia., sr. .......
E após uma pausa, fitando o Dr. Joaquim Pedro Vilaça, pardavasco que foi, mais tarde, ministro e presidente do Supremo Tribunal de Justiça:
- V. Excia., também, não está muito longe de o ser!
A ARGÚCIA DE FLORIANO
Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 18.
Apresentado pelo tenente Jansen Tavares, foi ao Itamarati, para falar a Floriano, um oficial do Exército, que pretendia dois meses de soldo adiantado:
- Sente-se, - ordenou o presidente.
Recusando a gentileza, o militar, mesmo de pé, contou ao que ia. E puxando do bolso uma nota de 5$000 e outra de 1$000, completamente machucadas, abriu-as, e disse ao ditador:
- Eis o dinheiro que eu e a minha família temos para passar o mês.
Floriano voltou-se, dizendo:
- Vá embora; vou mandar que lhe dêem três meses.
E virando-se para o tenente Jansen:
- Este camarada joga!...
- Não sei, marechal.
- Sabe, sim. Ele é jogador.
- Joga um pouco, - articulou Jansen.
- Um pouco, não; joga muito.
- Como sabe V. Excia. disso?
- Pois você não vê como ele tira o dinheiro do bolso todo machucado?! Isto só faz o jogador. No pano verde apanha indistintamente as notas de 20$000, de 10$000 e de 5$000, machuca tudo, mete no bolso e depois, ao fazer a parada, puxa-as da calça e abre para as pôr na mesa.
O oficial era, de fato, grande jogador.
IRONIA "VERSUS" GROSSERIA
Humberto de Campos - Discurso na Academia Brasileira de Letras, 1920.
Certo dia, passava Emílio de Menezes pela Avenida Central, quando cruzou com um deputado seu conhecido, que não primava pela educação, e que o deteve pela manga do casaco.
- Vem cá, ó Emílio... Quero dar-te a honra da minha companhia... Vamos tomar alguma coisa?
- A honra? - fez, com ironia, o poeta.
E com orgulho, desembaraçando-se do atrevido:
- Obrigado, meu velho; você já está tão desfalcado!...

GENTE DE SAIA
Contada pelo ex-deputado Laurindo Lemgruber.
Um político fluminense, amigo de Nilo Peçanha, acabava de entrar para a política do Estado, quando um dia, irritado com um magistrado local, resolveu atacá-lo. Antes disso, foi, porém, comunicar a sua resolução ao chefe do partido.
- Acalme-se, meu amigo; acalme-se... - aconselhou o ex-presidente da República. - Nada de precipitações e, se você quer ser mesmo político, não brigue com gente que usa saia.
E definiu:
- Juiz, mulher e padre...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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