sexta-feira, 2 de março de 2012

PIMENTEL: comendo no prato em que cuspiu

Por Ricardo Alcântara (*)
No território controverso da política, desaforos nem sempre são levados em conta. Em alguns, é tão compulsivo o apego ao estilo boquirroto que nos surpreendem mesmo é quando se mostram também capazes de gentileza.
Embora não seja afável, o senador José Pimentel é um homem sóbrio. Seu discurso evidencia uma disciplina reflexiva: não apenas hábil com as palavras – alguns truculentos também o são – mas prudente no seu uso.
Por isso, sua crítica ao gerenciamento pelo governo estadual de recursos federais disponíveis foi tão dissonante, mas, perto do que os irmãos do governador dizem do partido do senador e de sua prefeita, foi soft word.
Se fosse, como recebeu o governador, “declaração de guerra”, como classificar a retórica doméstica? O triunvirato familiar se concede licença especial para tratar os aliados com truculência e a eles nega o direito de espernear.
Estrago feito, Pimentel veio a público dizer, contra todas as evidências, que não duvidou da “capacidade gerencial de Cid Gomes” e que – eis os termos de sua rendição – “Os problemas extrapolam a vontade do governador”.
Não há exemplo de reciprocidade para tamanho zelo. Petistas nunca testemunharam retratações dos mais próximos ao governador, quando achincalham os atropelos gerenciais da administração petista na capital. 
Atritos com governadores não colaboram para seu bom desempenho como líder do governo no senado – a função é, por definição, para agregadores. Talvez tenham vindo mais de cima, as recomendações para o recuo. 
Ao fim, Pimentel se viu forçado a comer no prato em que cuspiu. Pois mastigue com cuidado, senador: há mais espinhas nesse pescado do que as razões que o senhor possa ter para não mais dizer o que realmente pensa.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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