segunda-feira, 30 de junho de 2014

Causos Militares em Brasil Anedótico V


POPULARIDADE E VULGARIDADE
"Revista da Semana", número especial, de 28 de novembro de 1925.
Era o Duque de Caxias ministro da Guerra, quando o Imperador foi visitar, em sua companhia e com o seu séquito, um dos quartéis da capital. Chegando ali, percorreu o edifício todo, indo até à cozinha, onde se servia, na ocasião, o rancho aos soldados.
- Dê-me uma destas marmitas, - ordenou o soberano, indicando uma das rações de sopa.
Atendido, tomou Sua Majestade todo o conteúdo, declarando que, mesmo no Paço, jamais tomara sopa tão saborosa.
Disciplinado e disciplinador, Caxias não gostou da singeleza do monarca. E, ao portão do quartel, disse-lhe, brusco:
- Vossa Majestade há de desculpar a minha franqueza, mas, por esse processo, Vossa Majestade não se populariza.
E corajoso:
- Vossa Majestade "vulgariza-se"!

REGALIAS MILITARES
Constâncio Alves - "Revista da Academia Brasileira de Letras", n° 60, de dezembro de 1926.
Laurindo Rabelo, não obstante o descaso de si mesmo, era profundamente orgulhoso. Médico do Exército e íntimo na casa do coronel Tamarindo, havia o poeta chegado à residência deste, em dia festivo, na ocasião, exatamente, em que a mesa das pessoas graduadas já se achava completamente cheia. Não querendo fazê-lo esperar, a dona da casa indicou-lhe um lugar na mesa da gente moça.
Laurindo franziu o rosto.
- Adeus, coronel, - disse, despedindo-se.
E já da porta, ofendido:
- Os médicos do Exército jantam com o Estado-Maior!

A ÚLTIMA CARGA
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, página 296.
Atacado pelas febres nos pântanos paraguaios, o general José Joaquim de Andrade Neves, já agraciado com o título de Barão de Triunfo, não queria abandonar a sua divisão de cavaleiros rio-grandenses, para tratar-se. Cada vez que caía sobre o inimigo era uma vitória para a sua cavalaria.
Após o choque em Lomas Valentinas, o herói não pôde mais. Levado para Assunção, a febre alta não o deixava mais, conservando-o em delírio permanente. E nesse delírio, os olhos em fogo, as mãos crispadas, erguia-se no leito, a barba em desalinho, como no fragor das batalhas.
A 6 de janeiro de 1870, era esse o seu estado, quando, no último delírio, bradou, com as últimas forças:
- Camaradas!... mais uma carga!... E tombou arquejando, para morrer.

O PORTUGUÊS DE LABATUT
Visconde de Taunay - "Trechos de minha vida", pág. 27.
Incorporado ao Exército brasileiro com o posto de major, Carlos Augusto Taunay, tio do visconde de Taunay, seguiu para a Bahia, a fim de dar combate, ali, ao remanescente das tropas portuguesas comandadas pelo general Madeira. Metendo-se, porém, a criticar os planos do general Labatut, contra o qual conspirava, foi preso e condenado à morte.
Esperançoso, todavia, de salvar-se, pediu Carlos Taunay adiamento da execução, alegando o desejo de confessar-se antes de morrer.
Labatut condescendeu, mas não perdoou. E a sua resposta foi esta, num português arrevesado:
- "Confissa ou non confissa, ma fussila!"

O PRIMEIRO PASSO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 246.
Figura de relevo no Exército do Império desde os acontecimentos de 7 de abril de 1831 o major Miguel de Frias achava-se preso em uma das fortalezas, quando, na noite de 3 de abril de 1832, desembarcou na cidade, a fim de assumir o comando da tropa, que entrava na conspiração. Em caminho, amigos procuraram dissuadi-lo, pois a maior parte da guarnição não o seguiria.
- É tarde - declarou ele; - agora já dei o primeiro passo!
E seguiu para o campo de Santana, onde, uma hora depois, era desbaratado.

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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