Por Ricardo
Alcântara (*)
O projeto governamental liderado pelo PT vai para uma
disputa eleitoral em condições bem menos favoráveis que nas três anteriores,
quando venceu, senão com margens avassaladoras, mas pelo menos suficientes para
confirmar sua pertinência.
Na economia, apesar do crescimento acumulado, a percepção
do momento é de estagnação. E há incertezas, com reajustes de preços a uma
velocidade fora dos padrões experimentados na última década e um quadro urbano
violento e conturbado.
Dentro dessa fotografia um tanto desfocada, existe uma Copa
do Mundo e a constatação desconcertante de que a população não se envolveu com
ela na intensidade prevista quando o país “conquistou a oportunidade” de
realizar o evento.
Sabe aquela sensação de comprar um brinquedo caro para seu
filho e, ao entregá-lo com grande expectativa de gratidão, perceber,
desapontado, a indiferença do garoto com o novo engenho que você imaginara
irresistível? Foi a impressão que o Lula me passou!
Pois uma comichão bateu na língua do ex-presidente e ele
foi para a imprensa apontar “os verdadeiros culpados” pela frieza dos
brasileiros com a prometida festa. E advinha o nome deles? Acertou: "a
oposição" e sua "imprensa conservadora". Tudo muito previsível.
Lula não ponderou seus argumentos com constatações de
mínima honestidade, admitindo que pelo menos uma parcela da decepção coletiva
pudesse derivar de fatores mais tangíveis e menos subjetivos do que os alegados
por ele em defesa de “sua” copa.
Não fez, por exemplo, qualquer referência ao fato de que os
estádios foram, apesar de compromisso em contrário firmado por ele, construídos
com dinheiro público (recursos estaduais) e que somente 12% das obras de
mobilidade estão até agora concluídas.
Ao apontar “a oposição e sua imprensa” como tutores da
nação, Lula nos nega um mérito possível, de que evoluímos em nossa cidadania –
até mesmo por contribuição que também se deve muito a ele – ao exigirmos agora
outro padrão de conduta do poder público.
Nervos trêmulos, Lula não foi sequer inteligente ao nos
apontar, contrariado, como uma legião de idiotas, docilmente manipulada: com
isso, ofereceu aos adversários um inesperado crédito de força, como se
estivesse entregando os pontos antes da bola rolar.
Ao contrário, a reação moderada da
nação com a “Copa das copas” demonstra que os atos públicos de Junho de 2013
demarcam uma nova, embora ainda difusa expectativa de mudanças, à qual a classe
política respondeu com a nulidade de seu próprio valor.
Lula tem credibilidade popular, embora talvez já não tenha
independência política, para optar em ser o futuro ou o passado deste novo
tempo. Já foi dito que há um momento na História em que obras e ruínas se
assemelham. Só alguns são capazes de distingui-las.(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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