O panegírico, originalmente,
consistia de uma oração de louvor, em verso ou prosa, proferida nas assembleias
gerais do povo grego. O exemplar mais famoso dessa fase é o Panegírico de Atenas, de Isócrates, lido
nas festas olímpicas de 384 a.C., no qual o orador exibe um veemente elogio a
Atenas e conclama todos os gregos a se unirem, esquecendo as suas diferenças
intestinas, em uma luta contra o inimigo comum, os Persas.
Os romanos igualmente intuíram o apreço
à oração laudatória em Panegyrici Latine,
no qual foram agrupados doze autores de escritos elogiosos, elaborados entre os
séculos II e IV, enaltecedores dos feitos imperiais.
No seu significado moderno, a
expressão panegírico adquiriu conotação um tanto quanto pejorativa, designando,
frequentemente, o elogio desmedido e interesseiro.
Em França, o panegírico encontrou
também cultores de classe alta, como Bossuet, cujos panegíricos (ou louvores
solenes) dos santos concorreram para reputá-lo como o maior orador sacro desse
país.
Jacques Bénigne Bossuet (Dijon, 1627 – Paris, 1704), bispo e teólogo francês, foi um
dos teóricos do absolutismo. Segundo ele, os reis recebiam poderes divinos para
governar.
Jacques Bossuet nasceu em uma família
de magistrados, em Dijon, onde recebeu educação no colégio jesuíta. Estudou
teologia aos 15 anos no College de Navarre. Em 1652, foi ordenado padre e
recebeu doutorado em teologia.
Seu pai obteve-lhe a indicação para
cônego na Mogúncia (Metz), onde ficou popular como orador em controvérsia com
os protestantes. Dividiu o tempo entre Metz e Paris até 1659 e a partir de 1660
raramente deixava a capital.
Famoso pelas suas pregações ao rei
Luís XIV, foi designado para ser tutor do Delfim, o filho primogênito do rei,
renunciando ao bispado de Condom, em que fora empossado em 1669. Foi nomeado
conselheiro do rei, depois de aprender o funcionamento da política junto à
corte real. Foi eleito para a Academia Francesa.
Foi designado, em 1681, bispo de
Meaux e deixou a corte, mas continuou mantendo laços com o rei. Foi, então, um
bispo dedicado, pregando e ocupando-se de organizações de caridade, poucas
vezes deixando sua diocese.
Embora fosse um religioso, Bossuet
era um formulador de ideias favoráveis ao poder do rei. Em seu livro “Política
Tirada das Santas Escrituras”, de 1708, Bossuet defendia o direito divino,
legitimador do governo da realeza.
Bossuet não colecionou, nem publicou
os seus trabalhos oratórios. Somente as suas principais orações fúnebres foram
publicadas durante a sua existência terrena. Ele nunca pensou em dar
publicidade às centenas de discursos, que pronunciou do púlpito sagrado.
Ao compor esses discursos,
destinava-os exclusivamente às pessoas que deviam ouvir sua palavra, sem jamais
ocupar-se de perpetuar-lhes a lembrança, pois temia, talvez, obedecer a um
sentimento de vaidade profana, caso os entregasse ao público. O seu fim,
segundo o grande orador, era “ensinar santa e fielmente a verdade” e não
ostentar a própria glória. (In: Prefácio da edição original de 1870).
Uma cuidadosa impressão de
“Panegíricos”, de Bossuet, foi lançada em 2013, pela Castela Editorial,
reproduzida da tradução do Pe. Clementino Contente, que foi publicada em 1909,
por H. Garnier, sob o título: Orações
Fúnebres e Panegíricos – Nova edição conforme o texto da edição de Versailles.
Na recente edição, estão contidos em suas mais de quinhentas páginas, 23 discursos
que discorrem sobre 18 santos católicos, alguns deles de ampla devoção no
catolicismo brasileiro (e.g. S. José, S. Francisco de Assis, S. Pedro, S.
Paulo) e outros de maior afeição no cenário hagiológico europeu, como S.
Francisco de Sales, S. Francisco de Paula, S. Bernardo, Sta. Catarina etc.
Não se tratam de meras biografias de
santos, redigidas de modo a assinalar feitos ou datas dos perfilados, mas de peças
oratórias, riquíssimas em palavras de espiritualidade cristã, dignas de leitura
daqueles que buscam aprimoramento e maior intensidade de sua vivência
religiosa.
Enfim, uma leitura plenamente
recomendada aos lucanos.
Integrante da Sociedade Médica São Lucas
* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas,
10(82): 5, maio de 2014.
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