COLEGAS...
Ernesto Sena
- "Notas de um Repórter", pág. 185.
Após a sua entrada para a pasta da Fazenda, havia o
conselheiro Francisco Belisário Soares de Sousa recorrido, já, três vezes, ao
crédito do país no estrangeiro, quando, ao passar um dia pela rua do Ouvidor,
ouviu que alguém o saudava, alto:
- Bom dia, sr. Conselheiro, meu amigo e colega!
O ministro voltou-se, e, vendo Paula Ney, de chapéu na
mão, numa reverência, correspondeu, atrapalhado, ao cumprimento.
E Ney, logo, com o mesmo sorriso:
- Colega, sim... Porque... V. Excia. Também não vive de
empréstimos?
O CALO
Ernesto Sena
- "Notas de um repórter", pág. 186.
Paula Ney, o maior desperdiçador de talento que o Brasil
já possuiu, não perdoava os seus desafetos e, ainda menos, as nulidades
pretensiosas que prosperavam no seu tempo. Conservava-se, uma tarde, em um
grupo na rua do Ouvidor, sobre o prestígio da imprensa, quando um presentes,
que se dizia jornalista, aventurou, acaciano:
- A imprensa é um grande corpo...
- É... é... - atalhou
Paula Ney, piscando por trás do "pince-nez". - A imprensa é um grande corpo. Mas você, nesse corpo...
E sem temer a reação:
- É o calo do dedo mínimo do pé esquerdo!...
MERCÚRIO PARA
TRÊS
Coelho Neto -
"A Conquista", pág. 44.
Era no Rio antigo, primeiros dias da República, últimos
dias da Monarquia. Entrava Paula Ney no teatro Santana, quando foi abordado por
duas mundanas, antigas atrizes, que o arrastaram para uma das mesas vazias a fim
de que lhes pagasse alguma coisa.
O boêmio não se fez rogado. Sentou-se entre as duas
raparigas, e, batendo, forte, com a bengala na mesa de estanho, chamou:
- "Garçon"!... "Garçon"!
E à aproximação do empregado:
- Mercúrio, para três!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
Nota do Editor: Com esta postagem, estamos fazendo a transcrição dos
causos que compõem a obra o Brasil Anedótico, de Humberto de Campos, publicada
em 1927, que tem por personagem central o poeta e humorista cearense Paula Ney.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
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