quinta-feira, 3 de março de 2016

ROBÔ DA VINCI


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Todo cirurgião deve um galo a da Vinci. Leonardo (1452-1579) nasceu em Vinci, perto de Florença, Itália. Foi pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, poeta, músico, durante 67 anos. Autor d’“A Última Ceia” (1495-?98), afresco (pintura mural) na Igreja Santa Maria delle Grazie (Milão), imortalizou-se pela “Mona Lisa”, ou “La Gioconda” (cerca 1503-06), no Museu Louvre, Paris. Credor dos cirurgiões como pioneiro na dissecção de cadáveres humanos. Lucubrando, i.e., trabalhando à noite, às escondidas do clero, trouxe à luz a anatomia, reproduzindo-a em 750 desenhos.
Tendo operado às ocultas, suas figuras quedaram ignoradas por 300 anos, sendo divulgadas só em 1543, no famoso tratado “De Humanis Corpora Fabrica”, do belga Andreas Vesalius. Comprovando o umbilical parentesco entre Literatura e Medicina, Homero, presumível autor da “Ilíada”, no século VII a.C. criou o lendário semideus Asclépio (Esculápio para os romanos), patrono da arte médica.
Há 24 anos, em “Dr. Robô”, aqui publicado (20/1/1992), nos reportamos à tal afinidade, em aulas na Faculdade de Medicina da UFC, na revista “Literapia” (6/2005), e neste jornal (10/11/2007, 12/11/2008, 11/3/2009, e 22/2/2011). Realmente, a história da Medicina confunde-se com a crônica da civilização. Como salientamos em 2008 (“Dr. Internet”) e 1992, a ficção do inglês Aldous Huxley (+1963), em “Admirável Mundo Novo” (1932) realizou-se, robotizando-nos.
O tempo ratificou a expressão “Galo de Asclépio”, presente dado ao médico por seus serviços. Explica-se assim a abrideira deste artigo. Nos EUA, robôs cirurgiões (da Vinci Surgical System) funcionam desde 1990. Na Europa, sua primeira intervenção (colecistectomia: retirada da vesícula biliar) foi na Bélgica, por Himpens, em 1997. Coincidindo com nossa publicação de 2008, a partir de março deste ano, um deles é utilizado nos hospitais Albert  Einstein, Sírio Libanês, e Oswaldo Cruz, em São Paulo. O complexo aparelho realiza operações minimamente invasivas, com maiores precisão e rapidez, e superiores resultados trans e pós–operatórios.
Em um dos hospitais privados no Ceará, foi há pouco inaugurado aparato semelhante. Para os norte–americanos, o robô da Vinci custa 3 milhões de dólares; no Brasil, três vezes mais. Curiosamente, os fabricantes curtem por igual a Mitologia, e nos demais modelos homenageiam Zeus, importantíssimo deus grego, Aesop (ou Esopo, o fabulista helênico), e Hermes, lendário mensageiro dos deuses, e, como Aesop, ativado por controle vocal! Passem muito bem os robôs.
Aplaudimos tudo isto, e nem deploramos nosso atraso barriquélico, mas o crônico, premeditado e consentido caos na saúde pública, quando sobram médicos, mas lhes faltam vacinas, remédios, gaze, esparadrapo e algodão. Pasmem! 
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, Opinião, de 3/2/2016. p.8.

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