Responsáveis
por até 10% das internações hospitalares em todo o País e por quase metade dos
procedimentos de média e alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS),
muitos dos 196 Hospitais Universitários (HUs) e de ensino seguem com dificuldades
financeiras e passam por uma crise que já interrompeu serviços e atendimentos
ao longo dos últimos anos.
Dados
apurados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em parceria com a ONG Contas
Abertas, confirrmam que a redução de verba orçamentária é uma das causas dos
problemas enfrentados pelas instituições. Em 2015, em 50 hospitais
universitários da rede federal, a retração nas contas foi de quase R$ 550
milhões. O volume foi 7% menor que o aplicado nestas unidades no ano anterior,
já considerada a correção inflacionária.
Segundo dados oficiais
extraídos do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal,
o problema afetou quase 90% dos HUs federais. Entre as 37 unidades
administradas pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) –
criada em 2010 com a missão de recompor o financiamento dos hospitais
universitários federais e recuperar a infraestrutura física tecnológica das
unidades –, apenas quatro não tiveram redução em seu orçamento.
De acordo com Henrique
Batista, secretário-geral do CFM, conselheiro federal pelo estado de Sergipe e
ex-diretor do Hospital Universitário do Estado, não há por parte do governo uma
decisão política de apoio integral a esta rede. “Apesar da proposta da Ebserh, a prestação de
serviços à população continua insuficiente. Ainda carecemos de um financiamento
adequado. Esses hospitais são importantes para o exercício da medicina e para a
pesquisa, pois os procedimentos de média e alta complexidades são realizados
neles. Então, são peças fundamentais para a boa formação médica”, disse.
Insuficiente – A presidente da Associação Brasileira
dos Hospitais Universitários e de Ensino (Abrahue), Mônica Neri, avalia que a
Ebserh tem dado suporte importante às unidades vinculadas, especialmente no que
diz respeito à reestruturação administrativa, mas afirma que o financiamento do
SUS ainda está muito aquém das necessidades dos hospitais universitários e de
ensino no Brasil.
“Temos sido muito bem recepcionados
pelos Ministérios da Saúde e da Educação. Porém, temos reiterado o pedido para
que os cortes orçamentários anuais não atinjam essas instituições”, ressaltou. Ela acredita que,
independentemente de terem aderido ou não à Ebserh, os hospitais se mantêm em
função de contratos realizados com gestores estaduais e municipais – trâmite
conhecido como contratualização. “Acontece que, para o pagamento da produção, os valores são baseados na
Tabela SUS, a qual está extremamente defasada. Hoje, ela não cobre o real custo
dos procedimentos, como todos sabemos”,
apontou.
A presidente da
Abrahue explica que o ideal seria que os recursos da contratualização fossem
utilizados para a manutenção e custeio desses hospitais. Acrescenta ainda que,
em sua avaliação, as verbas do Programa Nacional de Reestruturação dos
Hospitais Universitários Federais (Rehuf) – principal linha de financiamento
público dos HUs – devam ser destinadas para investimentos. “No fim das contas, o Rehuf tem sido
utilizado fundamentalmente para custeio”,
alertou.
TCU aponta falhas - Uma auditoria do Tribunal de Contas da
União (TCU) nas ações da Ebserh apontou uma série de problemas na gestão e na
infraestrutura de Hospitais Universitários (HUs) federais. No Acórdão nº
2983/2015, o ministro relator, Bruno Dantas, cobrou transparência na gestão
financeira da empresa e asseverou que as falhas encontradas “têm reflexos negativos de grande
impacto para a efetiva prestação de serviços de saúde pública” e “implicam em
repasses de recursos desconectados da capacidade real dos hospitais e das
necessidades de saúde das comunidades atendidas”.
Entre os problemas
apontados também está o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais
Universitários Federais (Rehuf), destinado à revitalização dessas unidades. De
acordo com o TCU, o programa teve previsão normativa de que seu financiamento
seria compartilhado de maneira paritária entre o Ministério da Saúde (MS) e o
Ministério da Educação (MEC). Entre os anos de 2010 e 2014, por exemplo, o MS
transferiu R$ 2,2 bilhões para o programa, enquanto o MEC aplicou R$ 940
milhões em rubrica específica do Rehuf.
Outro item avaliado
pela auditoria foi a contratualização nos serviços prestados. Embora os
serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino devam ser integrados
ao SUS mediante convênio, o TCU constatou que nove HUs federais não tinham
instrumentos formais de contratos válidos e atuais. Como reflexo, os repasses
de recursos aos hospitais têm sido feitos com base nas metas físicas
estabelecidas em instrumentos anteriores, que não mais refletem a capacidade
operacional ou o perfil assistencial do hospital, além de não considerar as
mudanças no perfil demográfico e epidemiológico locais.
No caso do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, por exemplo, o Fundo
Nacional de Saúde (FNS) mantém os repasses de valores constantes no último
instrumento vigente, de 2005, apesar de atualmente o hospital produzir,
mensalmente, o dobro de procedimentos assistenciais em comparação àquele ano.
A partir dessa
auditoria, o TCU determinou à Casa Civil que, junto dos ministérios envolvidos,
adote providências para corrigir o descompasso financeiro estabelecido no
normativo referente ao Rehuf e alertou o órgão para a possibilidade de
aplicação de multa em caso de não atendimento da determinação. O tribunal
também determinou à Ebserh, ao Ministério da Saúde, às secretarias de saúde e
às universidades que implementem medidas para sanar os problemas.
Fonte: Jornal
Medicina Nº 253 • FEVEREIRO/2016.
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