quarta-feira, 6 de abril de 2016

ACREDITE, SOMOS DIFERENTES


João Brainer Clares de Andrade (*)

CONJUNTURA

Acreditei no discurso que motivava o País em um projeto que inseria milhares de brasileiros, de fato, na sociedade. Acreditei na sinceridade da inclusão e expansão das universidades, das reformas políticas e tributárias que favoreciam o trabalhador. Acreditei na relação harmônica com as grandes empresas e em domar o medo do mercado externo, trazendo bons frutos e empregos. Acreditei na causa solidária de distribuir renda e acabar com a pobreza. Acreditei na coragem, na esperança; contive o medo.

Acreditamos que a estabilidade econômica das reformas do governo anterior seria bem usada contra a desigualdade. Acreditamos no fortalecimento dos movimentos sociais como via democrática a ouvir o clamor daqueles que historicamente nunca tiveram assento nas decisões. Vimos o desgaste da saúde pública, mas sempre cultivamos a esperança de que tudo mudaria. Acreditamos que os banqueiros não teriam vez, que os direitos dos trabalhadores jamais seriam tocados, que o mercado externo jamais ditaria regra, que não entregaríamos nossas riquezas. Demos voto de confiança ao bom discurso e aos princípios de um partido que, ao que parecia, zelava honestamente pelo povo.

Acreditamos e defendemos pela bela história: ele veio humilde e sem escola e se tornou presidente. Emocionamo-nos na posse em que milhares de brasileiros se viram. Confiamos nas mãos, no suor, na voz corajosa que dizia que faria o possível em nome de um projeto. Vimos e comemoramos o pobre entrar na universidade, as famílias se encontrarem pelos aeroportos, as crianças crescerem.

A história correu; e o tempo tão aclamado pelos defensores mostrou a verdade. O projeto que parecia belo e plural, que parecia feito ao povo, era uma estratégia populista e esgotável, vinda de um projeto econômico que devolve o País pior do que se recebeu. Anos de mérito foram na verdade uma maquiagem para se cativar militância e somente eleitores. Os que ganharam, agora, perdem. O humilde que se tornou presidente parece ter se tornado rico e ter ganhado com banqueiros e empreiteiras; esqueceu-se do passado. Esquemas milionários enriqueceram a cúpula. Ao povo, nada...

E ainda preferem a política da legião de ignorantes que ajudaram a cultivar com uma educação que nunca melhorou: preferem desconfiar da nossa inteligência, dizer que nada de errado aconteceu, de que a justiça é burra, de que a imprensa (toda ela, segundo eles) é comprada e sem credibilidade, que o adversário também rouba, que a polícia é seletiva, que o delator (homem de confiança até pouco tempo) não é de confiança. Enfim, eles acreditam que somos iguais a eles.

(*) Médico. Residente de Neurologia do HGF.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/4/2016. Opinião. p.17.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog