João Brainer Clares
de Andrade (*)
CONJUNTURA
Acreditei no
discurso que motivava o País em um projeto que inseria milhares de brasileiros,
de fato, na sociedade. Acreditei na sinceridade da inclusão e expansão das
universidades, das reformas políticas e tributárias que favoreciam o
trabalhador. Acreditei na relação harmônica com as grandes empresas e em domar
o medo do mercado externo, trazendo bons frutos e empregos. Acreditei na causa
solidária de distribuir renda e acabar com a pobreza. Acreditei na coragem, na
esperança; contive o medo.
Acreditamos que a
estabilidade econômica das reformas do governo anterior seria bem usada contra
a desigualdade. Acreditamos no fortalecimento dos movimentos sociais como via
democrática a ouvir o clamor daqueles que historicamente nunca tiveram assento
nas decisões. Vimos o desgaste da saúde pública, mas sempre cultivamos a
esperança de que tudo mudaria. Acreditamos que os banqueiros não teriam vez,
que os direitos dos trabalhadores jamais seriam tocados, que o mercado externo
jamais ditaria regra, que não entregaríamos nossas riquezas. Demos voto de
confiança ao bom discurso e aos princípios de um partido que, ao que parecia,
zelava honestamente pelo povo.
Acreditamos e
defendemos pela bela história: ele veio humilde e sem escola e se tornou
presidente. Emocionamo-nos na posse em que milhares de brasileiros se viram.
Confiamos nas mãos, no suor, na voz corajosa que dizia que faria o possível em
nome de um projeto. Vimos e comemoramos o pobre entrar na universidade, as
famílias se encontrarem pelos aeroportos, as crianças crescerem.
A história correu;
e o tempo tão aclamado pelos defensores mostrou a verdade. O projeto que
parecia belo e plural, que parecia feito ao povo, era uma estratégia populista
e esgotável, vinda de um projeto econômico que devolve o País pior do que se
recebeu. Anos de mérito foram na verdade uma maquiagem para se cativar
militância e somente eleitores. Os que ganharam, agora, perdem. O humilde que
se tornou presidente parece ter se tornado rico e ter ganhado com banqueiros e
empreiteiras; esqueceu-se do passado. Esquemas milionários enriqueceram a
cúpula. Ao povo, nada...
E ainda preferem a
política da legião de ignorantes que ajudaram a cultivar com uma educação que
nunca melhorou: preferem desconfiar da nossa inteligência, dizer que nada de
errado aconteceu, de que a justiça é burra, de que a imprensa (toda ela,
segundo eles) é comprada e sem credibilidade, que o adversário também rouba,
que a polícia é seletiva, que o delator (homem de confiança até pouco tempo)
não é de confiança. Enfim, eles acreditam que somos iguais a eles.
(*) Médico. Residente
de Neurologia do HGF.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/4/2016.
Opinião. p.17.
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