quarta-feira, 14 de junho de 2017

VACINA, NEM MORTA

Márcia Alcântara Holanda (*)
A frase acima foi proferida por uma paciente que acabara de receber o diagnóstico de sua doença pulmonar, como sendo a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (Dpoc). Por ser crônica e também progressiva, não tem cura, mas tem controle. Sendo a causa principal o hábito de fumar.
A fim do controle os pacientes com Dpoc devem: parar de fumar, usar corretamente a medicação adequada, de modo contínuo, praticar atividades físicas orientadas por especialista nesse tipo de terapia, que é a Reabilitação Pulmonar e vacinar-se contra a gripe.
O uso da vacina antigripal reduz em até 80% todas as gripes que o paciente iria ter durante um ano. Por sua vez reduz também em até 80% as infecções respiratórias e até as pneumonias, nesses pacientes.
Essa e outras frases, semelhantes as da paciente, são ditas por muitos que não aderem à vacinação impetrada pelo Governo Federal.
Perguntada sobre porque rejeitava tanto a vacina, até a morte, a paciente respondeu: “Porque já me disseram que dá reação forte, não serve para nada, é perigosa e causa até outras doenças”. Perguntada ainda sobre onde havia tomado conhecimento daquelas afirmações, a resposta foi: “Dizem por aí”.
Essa é uma ocorrência que leva muitos a não se vacinarem. Observemos a pesquisa “Denyng to the Grave: why we Ignore the Facts that will Save Us?”. Traduzindo: “Negando até a morte: por que nós Ignoramos os Fatos que Irão nos Salvar?” Essa é uma publicação dos doutores em Saúde Pública: Sara e Jack Gorman, filha e pai respectivamente, que escrevem sobre saúde global e encontraram como sendo fatores culturais os que mais influenciam na percepção do risco real de tomar vacina. Isso ocorre com indivíduos inteligentes ou não, e até com médicos. Não sendo, pois, a ignorância o que pesa nessa recusa em receber uma proteção vacinal, como fez a referida paciente, mas à cultura do disse, me disse: os boatos. Os cientistas acima recomendam em seus escritos, que os coordenadores das campanhas vacinais melhorem a comunicação científica, utilizando as evidências sob a forma de apelos emocionais éticos, tipo apelo popular convincente à adesão vacinal, como esse que criei agora, por exemplo: “Não espere morrer para tomar sua vacina contra gripe, depois de morta ela realmente não serve para nada”.
Ainda falta a adesão de muitos de nós ao apelo do Ministério da Saúde. Por isso: Que tal tomarmos nossa vacina hoje!
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/05/2017. Opinião. p.11.

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