Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
É inegável que a geração de crianças nascidas nesta era, a da tecnologia,
é diferente das anteriores, e as escolas precisam se adequar ao novo perfil do
alunato. Pais, mestres e/ou responsáveis necessitam repensar como devemos olhar
as crianças e os adolescentes, na contemporaneidade. Adianto que sou do tempo
em que se respeitavam os jovens como pessoas e, não os deixavam ao léu,
largados, sem lhes impor limites e/ou regras. Por outro lado, as expectativas
em relação às crianças e aos adolescentes aumentaram, sobremaneira, na
tradicional classe média urbana brasileira. O que está ocorrendo é uma inversão
de atributos. Todos se consideram capazes de educar, mas, na verdade, quando
todos acreditam que educam ou ensinam, ninguém educa ou ensina.
Por motivos diversos, os pais e/ou responsáveis exigem, dos educandários,
o que não conseguem realizar no interior dos lares. Acredito que, na maior
parte das vezes, a capacidade de vencer na vida, é um desígnio dos pais, dentro
dos lares. Atribuir essa tarefa aos professores representa uma fonte de
insegurança. Os professores não estão capacitados, tampouco foram preparados,
para desempenhar tal papel. Pais ausentes, que não podem dar a devida atenção
aos seus filhos, procuram viabilizar, através de sua descendência, aquilo que
desejavam ter alcançado.
Sendo assim, terceirizam seus planos e sonhos para as escolas. Sob
pressão constante, as escolas e os profissionais das áreas psicológica,
psiquiátrica e/ou psicopedagógica, passam a atribuir aos alunos, não poucas
vezes, o diagnóstico de portadores de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade ou DDA/TDA - Distúrbio/Transtorno de Déficit de Atenção com ou
sem hiperatividade (salvo as exceções de praxe). Sendo assim, os jovens são
medicados, desnecessariamente.
Uma matéria recente, publicada no jornal New York Times (dezembro de
2011), ressalta a escassez de medicamentos psicoativos. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS, 1981) cabe relembrar: os medicamentos psicoativos
"são aqueles que alteram o comportamento, o humor e a cognição". Isto
significa, portanto, que tais drogas agem, preferencialmente, nos neurônios,
afetando o sistema nervoso central, ou seja, a mente humana.
O tratamento para o TDAH ou DDA/TDA leva, muitas vezes, à depressão, ao
pânico, à ansiedade, aos distúrbios de linguagem, e outros mal-estares
psiquiátricos. Os fabricantes das drogas Ritalina® e Concerta® (medicamentos
que possuem o mesmo nome, no Brasil), reclamam da falta de previsão, por parte
da Food and Drug Administration (FDA), a Agência controladora da produção e
distribuição dos medicamentos, nos Estados Unidos. Neste sentido, a produção de
drogas similares e genéricas, naquele país, como entre nós, apresenta-se bem
menos dispendiosa, porém, não tem sido capaz de suprir a demanda do mercado
norte americano.
Não compete a mim, como médico ou professor titular aposentado de
Pediatria, discutir o poder da indústria farmacêutica, ou os abusos de
diagnósticos. No entanto, confesso que me causou espanto, o fato de a medicação
ter passado a ser receitada para melhorar o desempenho escolar de jovens que,
em verdade, são completamente normais. Isto é um fato gravíssimo! Essas
medicações estimulantes são, no presente, as drogas psiquiátricas mais receitadas
para crianças e adolescentes. Daí, para o abuso de outras medicações
assemelhadas, basta um pequeno passo.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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