Vista aérea da igreja do bairro Otávio Bonfim (Foto de Evilázio
Bezerra)
|
Por Tarcísio Passos (*)
O que caracterizava e dava vida ao meu bairro de Otávio
Bonfim era sem dúvida a igreja de Nossa Senhora das Dores. A igreja era o
centro do bairro, onde tínhamos todas as diversões. Ao lado havia um cinema.
Os filmes eram controlados em suas cenas de beijos. As
cenas cortadas eram logo notadas pelos espectadores jovens, que gritavam: “olha
o roubo!”. O nome era Cine Familiar. Também havia as festas da igreja com suas
quermesses, com os partidos azul e vermelho. Havia a rainha para cada partido.
A igreja era como a segunda casa de todos, que vivia sempre lotada de fieis
rezando o terço. Naquela época no bairro não havia gente rica. Logicamente,
havia uns com melhores condições do que outros. Não havia carrões. Até o
principal dono da Siqueira Gurgel, sr. Eduardo Gurgel não era considerado, como
hoje, um empresário rico. Mas um batalhador dentro da indústria que empregava
cerca de 500 funcionários.
Além da Siqueira Gurgel, havia os pequenos comerciantes com
suas lojas tecidos. Uma do sr. Arthur e a outra, do sr. Ramos. E os amigos
bodegueiros, com lembrança do sr. Crispim, na rua Justiniano de Serpa, que
estava sempre cheia, tinha até lenha para o fogão. Não existia ainda gás
butano, que veio aparecer lá para 1957.
Naquela época saudosa e harmoniosa, a maior coragem era
enfrentar o namoro. As meninas eram vigiadas pelos pais e muito presas. Mas
quando não havia oportunidade, o jeitinho era o roubo da menina, através de um
bilhete. Era um Deus nos acuda a procura desta menina fujona! Era o jeito. Mas,
quando se casavam, iam até o final da vida, porque naquela época não havia
separação e nem desquite. Saudoso Otávio Bonfim harmonioso! O passado é uma
colheita de lembranças.
(*) Advogado.
Ex-morador do Otávio Bonfim, vizinho de minha avó materna.
Fonte: O Povo, de 19/07/2017. Jornal do
Leitor. p.11.
Nenhum comentário:
Postar um comentário