Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
Não houve no Nordeste
brasileiro o romance modernista, mas sim o ciclo pré-modernista e o pós-modernista.
O primeiro, de Franklin Távora e Domingos Olympio, colocava em plano secundário
os elementos sociais e na fase principal da cena, de forma invulgar, a chamada
ação episódica. No segundo, com destaque, entre outros, para a incomparável
Rachel de Queiroz e para José Américo de Almeida, os elementos sociais superam
a ação episódica, traduzindo com rigor o documentário. Mas, ao fechar-se o
segundo ciclo, Graciliano Ramos abre a terceira fase: acrescenta ao
documentário, sem anular a irradiação social, as indagações psicológicas. Por
trás das obras dos autores mencionados, existem componentes políticos,
econômicos e religiosos compatíveis com os momentos em que foram escritas. A
literatura nordestina, com certeza, é a que apresenta com maior realismo as
características de um povo que mata e reza para não morrer. A visão do
intelectual, além de ser abrangente, é caracterizada por conter, na maioria das
vezes, sentimentos sociais, diferentemente daquilo que pensam muitos
tecnocratas. A produção literária do Nordeste precisa ser levada em
consideração pelos formuladores de politicas econômicas globais. Talvez seja
mais importante a leitura de "O Quinze", "A Bagaceira",
"Vidas Secas" e tantos outros livros do que de compêndios
estrangeiros de economia politica, mesmo de alguns mestres famosos, como
Friedman, Samuelson, etc. É importante a conexão entre a realidade cultural e o
desenvolvimento. O Nordeste tem suas peculiaridades e também suas vantagens
comparativas que precisamos transformá-las em vantagens competitivas.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte: Diário
do Nordeste, Ideias. 3/3/2017.
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