terça-feira, 25 de julho de 2017

QUE LIVRO EU ESQUECERIA EM UM BANCO NA PRAÇA?

Por Vasco Arruda (*)
Encontrava-me absorto em minhas leituras quando Naza assomou à porta interpelando-me com um comentário expresso em tom de gracejo: “Este desprendimento eu quero ver você ter, o desapego literário”. Surpreso, indaguei do que se tratava. Tendo em mãos o celular, leu a mensagem que nossa amiga Nágila Angelim acabara de me enviar pelo WhatsApp:
Esqueça um livro. 25 de julho: Dia do esqueça um livro e espalhe conhecimento. Pratique o desapego literário.
Vamos esquecer livros em diversos locais. Deixe no restaurante, no ponto de ônibus, em um banco na praça. A iniciativa faz parte de um projeto de incentivo à leitura e compartilhamento de conhecimento.
Participe dessa campanha e compartilhe essa ideia com outras pessoas”.
Achei a ideia genial. Já pensaram se, de repente, cada leitor que tem em casa alguns livros se dispusesse a esquecer pelo menos um num dos lugares sugeridos, quantos novos leitores poderiam advir deste simples e desprendido gesto? Vejo na proposta duas possibilidades de prazer igualmente atraentes: o de quem esquece o livro, por proporcionar a alguém a possibilidade de acesso a um livro que, de outra forma, talvez nunca lhe chegasse às mãos; e o daquele que, de posse do livro, se sentirá presenteado por um anônimo que não tem a mínima ideia de quem se trata. Algo assim como uma espécie de intercâmbio amoroso entre dois anônimos que interagem por meio deste objeto maravilhoso e encantador.
Disposto a aceitar o desafio que me fora proposto, num estado de muita excitação, comecei a matutar sobre que livro eu escolheria para o ato. Lombadas e capas começaram a desfilar pela minha mente, numa barafunda de obras e autores. De repente, me lembrei de um que, pelo título e pelo conteúdo, provavelmente seja o mais indicado.
Nele está escrito, logo no início: “A virtude paradoxal da leitura é de nos abstrair do mundo para nele encontrar algum sentido, diz Pennac. (...): “Se hoje o mundo nos mostra mais incertezas que esperanças, não será a paixão pelos livros uma forma de reafirmar os valores do homem que jamais serão abalados pela política e pela guerra? (...) Por meio dos textos reunidos neste livro os editores desejam contribuir para que o amor pelos livros seja disseminado em nosso país que ainda precisa conquistar para seu povo o acesso ao livro. Queremos contagiar o maior número possível de pessoas, ou, no dizer de José Mindlin, inoculá-las com essa loucura mansa.
Eia, pois, para o meu gesto de desapego literário já tenho o livro perfeito, que tem como sugestivo título “A paixão pelos livros” (organização Júlio Silveira e Martha Ribas. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004). Dia 25 irei deixá-lo em um banco da praça, certo de que estarei contribuindo para que, ao folhear suas páginas, um anônimo transeunte seja contaminado pelo vírus da paixão pela leitura.  
(*) Psicólogo.
Fonte: O Povo, de 8/7/2017. Opinião. p.11.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog