“As academias
coroam com igual zelo o talento e a ausência dele.” Carlos Drummond de
Andrade.
Fui, há alguns anos, presidente de
uma Academia de Letras, cujo nome não vem ao caso. Intrigado, publiquei,
recentemente, um livro de 138 páginas. O nome é direto ao ponto: “Experiência como Presidente” (ISBN 978-85-923210-0-0). Retrato, inclusive, com
fotos, os dois anos da gestão com todos os detalhes legais, culturais, sociais.
Necessários e talvez alguns supérfluos.
Uma entidade de letras ou similar
deve incentivar os seus membros a publicar livros e a frequentá-la. Para isso,
criei selo editorial específico e, durante esses dois anos alguns livros foram
lançados por consócios, participamos de duas Bienal de Livros e procuramos
estimular a criação de Academias estudantis, em conjunto com a Secult e alguns
colégios. Tivemos êxito. A cada ano, fizemos uma “Semana Cultural Viajando nos Livros” e uma Exposição de Livros Raros, ambos com a
participação de dezenas de colégios públicos e privados. Públicos acima de mil
pessoas.
Realizamos festas natalinas e no
aniversário da Academia. Sem dinheiro alheio. Idealizamos e criamos, com a
ajuda de Regina Fiúza, de Murilo Martins e de Pedro Henrique Saraiva Leão,
grupo para planejar e dar o “startup”
no restauro do Palácio da Luz. Depois, concretizada por José Augusto Bezerra.
A par disso, consultados os colegas e
pedir-lhes colaboração para a confecção de novo Estatuto, mourejei solitário na
minha gávea. Produzi documento que, através de assembleia geral convocada, foi
lido e relido, pois distribuídas cópias.
Na Assembleia, em 16 de junho de
2010, o Estatuto, levado à discussão, foi aprovado por unanimidade. Possui 37
artigos. Neles, estão claros os direitos e obrigações. Além do Estatuto,
submeti aos pares um Regimento Interno com 22 artigos, igualmente aprovado na
sobredita Assembleia.
Três colegas faleceram nesses dois
anos e foram devidamente pranteados. Após o período do luto oficial,
significaram eleitos novos membros, sendo recomposto o quadro social.
Criamos boletim mensal eletrônico e
blog para noticiar os eventos, mas poucos acessos aconteceram, mercê da
carência de interesse de alguns por esse mundo esquisito e definitivo da
Internet.
O boletim possuía conteúdo definido:
palavra do presidente, acontecimentos do mês e do seguinte, pensamento de autor
ilustre e a prestação de contas do mês anterior.
A entidade foi homenageada com placa
de prata, em sessão solene, na Câmara Municipal de Fortaleza-CMF, em outubro de
2009, por iniciativa do vereador Paulo Facó. Apresentamos ao presidente da CMF,
Salmito Filho, a intenção de participar do “Pacto
por Fortaleza, a cidade que queremos para 2020.”
Com a Secretaria da Cultura do Ceará,
parceira da gestão, sem que a ela fossem exorados recursos, criamos a ideia do
“Anuário da Cultura”, aprovado pelo secretário Auto Filho. O belo
Anuário saiu em 2010. Os secretários da cultura e os presidentes que nos
sucederam não o levaram avante. Pena.
Fizemos publicar um número da revista
da entidade, com colaboração de acadêmicos. Distribuímos, gratuitamente,
broches (bottons) e carteiras de identidade social.
As reuniões foram descrevidas pelo secretário Eduardo Fontes. Culminamos com a
eleição de nova diretoria, sem esquecer de deixar a tesouraria com caixa
positivo de R$ 13.750,51. Referimos que nessa gestão não solicitamos quaisquer
ajudas financeiras a pessoas ou instituições privadas ou órgãos públicos. Não
homenageamos nenhuma pessoa, empresa ou entidade, pública ou privada. Foi
assim.
Pergunta final: Por que pessoas
concorrem a eleição, às vezes duras, em Academias de Letras ou similares e,
logo em seguida, após a desejada assunção, sessão de posse e coquetel, deixam
de frequentá-la?
Alguns, sentem-se até incomodados com
a cobrança da mensalidade devida e necessária para a precária manutenção dessas
entidades. Esse é um drama comum e atual de quase todas e pode servir de base
para discussões e providências que urgem.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de
Letras.
Fonte: Publicado, provavelmente, no jornal Diário
do Nordeste, Ideias, 8/09/17.
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