Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Do francês ‘prêt’ (PRONTO) e à-porter (PARA
LEVAR) …, portanto, ‘prêt-à-porter’, em termos de moda, quer dizer, isso mesmo,
pronto para levar…pronto para vestir e usar… produção em série, para baratear o
produto, comprar, levar e usar… não há segredo.
E o que tem a ver a moda com
a ansiedade? É o que discutirei a seguir.
O prêt-a-porter foi
abraçado por grandes estilistas, que acrescentaram valores estéticos aos
produtos e isso não causou mal algum. Foi até construtivo. Positivo. Surgiu até
uma transformação simbólica, que criou um símbolo de alta classe.
A publicidade aumentou.
Grifes que deveriam ser intrinsecamente articuladas para não democratizar algo
exclusivo criaram milhares de peças idênticas, industrializadas, que passaram a
ser cobiçadas por pessoas no mundo todo. Para recordar: o costume de criar e
comprar prêt-à-porter surgiu após a
Segunda Guerra Mundial. Dizem até que o fator mais importante para o sucesso da
produção de roupa pronta para ser usada foi a concepção estética global que,
desde a criação das primeiras butiques, propôs a inclusão de linhas de
acessórios, como joias e perfumes.
Como sou psicoterapeuta e não
estilista termino esta introdução lembrando uma curiosidade, pelo menos para
mim: Pierre Cardin foi o primeiro a abrir um departamento prêt-a-porter (em
inglês “ready-to-wear”) na famosa Galeria Printemps, em Paris, no
ano de 1959. Por isso foi expulso da Câmara Sindical, responsável por zelar
pela alta-costura.
Como não entendo bulhufas de
moda masculina e muito menos da feminina, acredito que o sucesso da vestimenta
comprada pronta não pode ser culpa da internet, compras virtuais, preços mais
baixos, modismo, por estar na onda. Mas não é somente isso: o fato de as pessoas
não saberem mais esperar para que a roupa fique pronta leva a uma narrativa,
uma construção, baseada na pressa generalizada: o tempo não dá tempo para se
fizer tudo o que queremos/somos forçados a fazer.
Creio ser esse um dos motivos
ocultos do aumento da ansiedade genérica.
A ansiedade generalizada (CID10 F41.1) é
persistente, não ocorre exclusivamente nem mesmo de modo preferencial numa
situação determinada (a ansiedade é “flutuante”) e tem de ser tratada e
cuidada. É muito sofrida.
Nesta estação Global, tudo é
muito rápido, queremos tudo depressa e na hora, temos que escolher entre um
grande número de coisas ao mesmo tempo, acelerado, ligeiro, e o nosso aparelho
mental ainda não está capacitado a destrinchar tantas coisas ao mesmo tempo.
Espero que na minha vida eu
tenha ainda tempo para continuar procurando essa capacitação e para continuar
trabalhando nisso (a maioria das pessoas que me procuram são jovens),
auxiliando esses jovens a quem me dedico como meta de vida, por sempre tê-los
amado de forma respeitosa.
Quando eu falo de jovem não
estou falando de idade cronológica.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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