domingo, 9 de maio de 2021

... E A COBRA VAI FUMAR

Até o início da II Guerra Mundial, em 1939, o governo de Getúlio Vargas guardava bastante afinidade com o Nazifascismo, tendo, inclusive, instituído o chamado Estado Novo, vigente de 1937 a 1945, no qual se compartilhavam certas características com os regimes totalitários, a exemplo do anticomunismo.

A Europa e grande parte do mundo estavam em guerra, enquanto o Brasil procurava permanecer na neutralidade, condição que interessava aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), mas era igualmente cortejado pelos Aliados, liderados por Inglaterra, França e Estados Unidos, para ingressar no conflito global. Distante do epicentro da confusão, o País prosseguia com sua política de não se posicionar, tomando partido de qualquer lado em beligerância, alimentando promissoras expectativas comerciais no pós-guerra.

Enquanto o mundo estava imerso em uma guerra infernal, discutia-se aqui se o país deveria entrar ou não no conflito. O governo Vargas assegurava que o País de maneira alguma entraria na II Grande Guerra. Foi nos anos iniciais da década de 1940 que apareceu a famosa frase “é mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na Guerra”. Alguns colocaram esse vaticínio na boca do fürher Adolf Hitler e outro a atribuíram a Vargas, quando na verdade foi cunhada por um jornalista brasileiro.

No entanto, muito do pensamento dominante no Brasil se alterou com o próprio desenrolar da guerra, quando esta passou a favorecer os Aliados em detrimento do Eixo, assinalando a possível derrota deste grupo. O assédio por parte dos Aliados continuava e especialmente os EUA tentavam seduzir o Brasil. A entrada dos norte-americanos na guerra no final de 1941, após o traiçoeiro e infame ataque japonês a Pearl Harbour, proporcionou uma série de benefícios logísticos e financeiros ao Brasil.

Desse modo, a apregoada neutralidade brasileira começou a ser anulada em 1942, quando o Brasil cedeu seu território para que os EUA instalassem suas bases aéreas militares em Fernando de Noronha e ao longo da costa nordestina, uma faixa de terra de enorme valor estratégico, por sua situação geográfica próxima da Europa Ocidental e também do Norte da África.

Os ataques de submarinos alemães a embarcações comerciais brasileiras, produzindo várias centenas de vítimas fatais, conduziram a opinião pública a uma drástica mudança de rota, impingindo o governo à declaração de guerra contra a Alemanha em 22 de agosto de 1942, levando o Brasil à luta contra o fascismo e o nazismo no teatro de operações europeu, mais precisamente na bota italiana, posteriormente.

Diante da demora no envio das tropas, pairava no ar um certo ceticismo público, desde 1942, quando o presidente Getúlio Vargas anunciou que o Brasil não se restringiria ao fornecimento de materiais e nem à expedição de contingentes simbólicos.

E assim se diz: a cobra fumou… Hoje, quando se usa essa expressão, – ou sua variação no futuro, “a cobra vai fumar” –, a ideia que se quer passar é a de que alguém “vai botar para quebrar”, que a coisa vai ficar “feia”. E foi exatamente isso que o Exército quis dizer quando adotou a frase “A cobra está fumando!”, como slogan da Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída em 1943 para lutar na Europa, durante a 2ª Guerra Mundial, junto aos Aliados na Campanha da Itália.

O slogan foi uma resposta à descrente opinião pública da época, que afirmava ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. A partida das tropas brasileiras para a Itália apenas aconteceu em junho de 1944.

Além de adotar o irônico slogan, a FEB, cujo brasão da companhia trazia uma imagem de uma cobra fumante, editou um periódico que se chamava ...E a Cobra Fumou!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Fora de forma! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2020. 128p. p.60-62.


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