domingo, 2 de maio de 2021

O FUZILEIRO SORVETEIRO

Outro causo acontecido no Grupamento de Fuzileiros Navais em Ladário, no Mato Grosso do Sul, foi contado pelo mesmo tenente que o vivenciara.

Lá por meados de 1970, chegara à cidade, finalmente, uma famosa marca de sorvete, adquirida por um comerciante, um antigo fornecedor do quartel.

O Comandante, de então, do Grupamento era um grande apreciador da guloseima. Um certo dia, durante o almoço, solicitou a um soldado que fosse adquirir um “baldinho” de sorvete de morango – porque a embalagem era uma lata com alça que, de fato, lembrava um balde.

O encarregado dessa tarefa era um soldado “antigo”, beneficiado por legislações anteriores, mas já revogadas há muito tempo, e que, por força do direito adquirido, lhe permitiram permanecer no posto mais baixo da carreira por mais de vinte anos, até alcançar o limite de idade autorizado para sua situação funcional.

Era um quarentão, sem condições de acompanhar seus companheiros de fardas mais jovens nos puxados exercícios de Infantaria. Por isso, ele foi designado para trabalhar no refeitório dos Oficiais, onde se desincumbia muito bem de seus afazeres. Mas o raciocínio, estava longe do desejável ...

Pois lá fora ele, a caminhar de pé dois, para buscar o tal “baldinho”. E nada de voltar ao quartel. O Comandante, insatisfeito, terminou o almoço sem ter o sorvete de sobremesa, como queria. Este, preocupado com não regresso, determinou a saída de um jeep, com outro soldado, para localizar o velho “taifeiro”.

Não demora muito, chegam os dois transportando no veículo um enorme balde de plástico, de mais de 20 litros, usado para lavagem de uniformes, cheio até a tampa de sorvete de morango!

Em resumo: o quartel esgotou o estoque de sorvete da cidade e toda a tropa se fartou da iguaria gelada durante uns dois dias; e a conta minguou duramente as escassas dotações de custeio alimentar da corporação ...

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ombro, arma! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2018. 112p. p.73-74.

Nota: Esse causo acima foi adaptado dos originais de Gil Cordeiro Dias Ferreira, postados em 6 de julho de 2012, no Portal Militar. São desse autor, ao todo, mais de quinze causos relacionados à Marinha de Guerra do Brasil, que podem ser acessados em: http://www.militar.com.br/artigo-2474-Coisa-de-Naval---Causos-Fuzileiros#.Uoi53SfEhHI


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