Por Henrique Soárez (*)
Se houver
paralelos entre a democracia norte-americana e a brasileira, em 2026 ainda
estaremos discutindo se houve ou não fraude nas urnas. O sonho de termos
dois candidatos de centro disputando a presidência (Alckmin e Tarcísio?) será
mais uma vez torpedeado pela necessidade de escolher o menos ruim.
O eleitor
não é naturalmente polarizado. A pesquisa do Instituto Locomotiva para o
projeto Despolarize mostra que, longe das eleições (julho/2021), somente 41%
dos brasileiros se identifica espontaneamente com a direita ou a esquerda: os
outros 59% se dizem de centro ou "nenhum/não sabe".
A animosidade em relação aos que pensam diferente é feita de caso
pensado por sujeitos que preferem influenciar as massas pouco atentas usando
caricaturas e fantasmas imaginados.
Tomemos o
caso das teorias conspiratórias. Um exemplo que circulou em 15/novembro
mencionava a compra dos nossos juízes e líderes partidários por US$ 1,8
trilhão. Ninguém que pense duas vezes nessa alegação irá dar-lhe crédito (o
valor é superior ao PIB nacional). Mas na dinâmica das redes sociais, a
insistência no tema busca adestrar os seguidores sobre a conduta dos
adversários. Quando um 'true believer', como descrito por Eric Hoffer, é questionado
sobre a razoabilidade das alegações a resposta comum é: "esse caso pode
até ser falso, mas todo mundo sabe que é assim que eles agem". A
infinidade das lorotas torna crível a caricatura.
O diálogo
deveria seguir o rumo oposto. Como um competente advogado criminalista, o
democrata deveria partir do respeito aos melhores argumentos do seu
oponente. Tirar proveito aquilo que há em comum e atrair os eleitores mais
sofisticados do campo adversário. Cabe ao líder zelar pelo discurso verdadeiro:
não somente abster-se de mentir, mas também apontar deslizes
de honestidade intelectual até entre seus apoiadores. Modelar antes
das urnas o comportamento honrado pelo qual poderá ser cobrado durante o
mandato. As democracias não são tribunais onde adversários se enfrentam; são
espaços de troca onde as melhores ideias prosperam pelo bem da população.
(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da
Uni7.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/12/22. Opinião, p.16.
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