Por Ana Claudia Camargo (*)
Para se tornar
um enfermeiro (a) de alta performance são necessários ao menos 30 anos de
estudos, sendo 15 anos do ensino fundamental ao médio, mais 5 anos de
faculdade, mais 2 de especialização, mais 7 de formações complementares,
participação em congressos, pesquisas, mestrado e doutorado. Esta é em média
a vida acadêmica de um profissional que dedica 40% da vida (se
comparado à média de expectativa de vida no Brasil segundo IBGE, 72 anos) para
viver em prol da profissão que jura dedicar a vida profissional a serviço da
humanidade.
Coincidentemente
ou não, foi quase exato o mesmo período de tempo, um pouco mais de 30 anos das
leis nº 7.498, de 25 de junho de 1986 e nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990,
que a luta por melhores salários enfim, foi sancionada pela Presidência da
República com a Lei 14.434/2022, que criou o piso salarial nacional
do enfermeiro, do técnico de enfermagem, do auxiliar de enfermagem e da
parteira, sendo publicado no Diário Oficial da União em 05 de agosto de 2022.
Mas o que
a aprovação da LEI do piso impacta?
A Confederação
Nacional de Municípios (CNM) realizou um estudo orçamentário sobre
os possíveis impactos e estimou-se um gasto anual de R$ 10,5 bilhões
e demissão de 32,5 mil enfermeiros, caso haja aplicação sem custo adicional,
mais de R$ 1,8 bilhão seria identificado no primeiro ano só na
estratégia Saúde da Família e custo extra anual total de R$ 9,4
bilhões aos cofres municipais. Já segundo o presidente da Fehosp, há 10 anos
não há reajuste da tabela de serviços do SUS.
Isso significa
que, em mais de 30 anos, o estado não se organizou para as mudanças que
aconteceriam em janeiro de 2023. O setor privado, planos de saúde, exames e
especialmente o serviço filantrópico, não veem a medida como viável a
curto prazo, que já possui uma carga tributária enorme. Além disso, a lei foi
aprovada e o prazo de implantação para o setor privado seria no mês seguinte.
Os profissionais
da enfermagem que representam mais de 50% da folha de pagamento da maioria
dos hospitais, estão a mercê das decisões políticas e econômicas, no entanto
seu juramento de dedicação integral e seu investimento na carreira de 30 anos
permanecem, mesmo após desrespeito e desvalorização e na incerteza das novas
decisões, que não estão em suas mãos.
(*) Enfermeira. CEO e Fundadora da
Faculdade ITH.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/11/2022. Opinião. p.21.
Nenhum comentário:
Postar um comentário