Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Estudamos a História
por muitos motivos, entre os mais importantes está achar rastros ou pistas para
compreender o presente. O Brasil não é uma ilha, faz parte do Mundo, onde
encontraram espaço para abrigar o comunismo, o fascismo e demais assemelhados.
A era industrial e a
economia passaram para a era agora denominada digital, gerando desemprego,
embora surjam novas profissões com os óbices inerentes às mudanças, que exigem
novas capacidades técnicas e a ansiedade com a perda das que garantiam
empregos, aposentadoria e demais pseudo seguranças.
Essa nova situação
levou as massas para ideologias que vão da extrema direita ao fascismo e ao
comunismo, causando intolerâncias genitoras das polarizações. O mais
interessante é que cada uma delas defende e propaga o mesmo alvorecer para
alcançar objetivos assemelhados, por caminhos diferentes, que levam a disputas
para garantir – assim o dizem – o bem-estar dos povos, definido segundo cada
sistema de ideias. Para lembrar um termo em moda, deveríamos alcançar a tal da
Democracia, termo esse muito mal empregado, pois significa apenas um sistema
eleitoral que permita à maioria da população escolher alguém que – supostamente
– a vai defender. Seja por qual motivo for, esses extremismos nada
construíram. Mas sei que deles advieram o aumento e a pressa ansiosa de
conseguir tais metas utópicas cujos resultantes são as destruições, desavenças,
brigas, sangue e mortes que sempre foram a argamassa de todas as Guerras. Sejam
elas locais, tribais ou mundiais. A mídia atual engorda as dúvidas, aumentando
a ansiedade da Humanidade, ao invés informar.
Quando assisto a
tantas mortes, desatinos, destruições, recordo-me de minha infância quando ouvi
por vez primeira, contada em minha língua materna, a lenda reescrita por
Monteiro Lobato que dizem por aí foi obra de Esopo (620 a.C.? — 564 a.C.?), de
existência histórica bastante duvidosa…
Mas vamos a fabular:
“Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um
lobo esfaimado, de horrendo aspecto.
— Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? —
disse o monstro arreganhando os dentes. Espere, que vou castigar
tamanha má-criação…
O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:
— Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela
corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta, mas
não deu o rabo a torcer. Além disso — inventou ele — sei que você andou
maldizendo de mim no ano passado:
— Como poderia maldizer do senhor no ano passado, se nasci
este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
— Se não foi você, foi seu irmão mais velho, dando no mesmo:
— Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo furioso, vendo que com razões claras não vencia o
pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:
— Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E — Nhoque!
— sangrou-o no pescoço”.
Conferir em Fábulas, Monteiro
Lobato, São Paulo, Ed. Brasiliense: 1966, 20.ª edição.
Leituras de infância,
dessas não nos esquecemos -nunca. Ficam encravadas na nossa espécie. Continuo
dizendo “a criança é o pai do Homem” e contra a força não há argumento. Nunca
mudou!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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